Mídia e representação social juvenil: recepção do Programa Malhação
Abstract
Este estudo centra-se no entendimento de jovens de classe popular e de sua relação com o
meio de comunicação televisão. Investigamos a representação social juvenil e, por isso, temos em
Malhação um exemplo rico cuja narrativa se pauta especificamente neste público. O objetivo da
dissertação é compreender quais são as representações de juventude e de classe social
construídas por Malhação e de que modo elas colaboram na construção da representação
social do jovem. Os objetivos específicos do trabalho consistem em verificar como é construída
a representação de juventude e de classe em Malhação; demostrar como o programa representa a
relação do jovem com as categorias empíricas família e relações afetivas, consumo e escola;
verificar como se dá a recepção do programa, a partir da televisão, por jovens de classe popular,
enfatizando o papel da classe social; verificar como o jovem se vê representado no programa e
como constrói representações juvenis a partir disso, no que diz respeito à sua relação com cada uma
das categorias empíricas citadas acima. A pesquisa será desenvolvida através de um estudo de
recepção com base na metodologia da etnografia. As técnicas adotadas são a entrevista em
profundidade, a observação participante, o diário de campo, as conversas informais, o registro
visual e a assistência ao programa junto das entrevistadas. Como base teórica, utilizamos a
abordagem dos estudos culturais e o modelo das Mediações Comunicativas da Cultura de Jesus
Martín-Barbero. O estudo é desenvolvido com 6 jovens de classe popular da cidade de Santa Maria.
Percebemos que a 18ª temporada foca nas relações entre diferentes classes sociais. Apesar disso, a
temporada não utiliza o termo classe para se referir à posição social dos personagens. Assim,
continua mascarando os reais conflitos de classe, amenizando a discussão acerca destas
diferenças e mostrando que elas não importam, já que todos os jovens representados no
programa têm acesso igualitário aos bens de consumo e às atividades de lazer. Portanto,
Malhação não faz uma crítica à desigualdade e as jovens aceitam esta visão apresentada no
programa, pois se veem representadas nele. Assim, apesar da realidade da classe média e alta
ser representada majoritariamente, as entrevistadas veem-se representadas no programa
principalmente no que se refere ao consumo, à família e à relação com os amigos. A discordância
ocorre no que se refere à escola (elas não se veem representados na relação de união entre
professores e alunos apresentada em Malhação), às relações amorosas (algumas jovens não
assimilam a relação de amor entre os protagonistas com situações de sua realidade) e ao lazer
(algumas jovens não se veem representadas em Malhação no que se refere aos hábitos de lazer).
Mas esta discordância não está relacionada, em geral, com a questão da classe social e, quando se
veem representadas no programa, esta identificação com personagens, famílias e ídolos da TV se dá
preferencialmente por questões subjetivas, que não se relacionam com a cultura popular.