Ecologia floral de Bauhinia forficata link: interações ecológicas na restauração de ecossistemas
Abstract
O presente estudo teve por objetivo determinar as características da oferta e qualidade dos
recursos florais em Bauhinia forficata Link, espécie nativa da floresta Estacional Decidual do Rio
Grande do Sul, e a forma como estas influenciam na atração e na interação com os visitantes florais e
com as demais espécies vegetais. Buscou-se ainda determinar os mecanismos ecológicos que se
estabelecem a partir das interações planta/animal que possam ser utilizados como base teórica para a
criação de estratégias de restauração ecológica. O trabalho foi conduzido no Município de Santa Maria,
região central do Rio Grande do Sul. Foram selecionadas 11 matrizes com base na qualidade ambiental
dos fragmentos de seu entorno e nas características morfofisiológicas e fitossanitárias dos indivíduos,
das quais se avaliou a fenologia, volume e concentração de néctar instantaneamente disponível (NID),
viabilidade polínica, aptidão à autogamia, diversidade florística das áreas adjacentes, diversidade,
intensidade e comportamento de visitantes florais diurnos e noturnos, e teias ditróficas de interação
planta-polinizador. As variáveis foram testadas por comparação de médias, Análise de Componentes
Principais (PCA) e análise de correlação. O volume médio de NID observado para a espécie foi de 40,3
μl e a concentração média foi de 0,265 mg/μl. A viabilidade polínica média foi de 81,43%, sendo que a
espécie demonstrou ser inapta à autogamia. O número médio de visitantes florais foi 18,24 por matriz e
a intensidade média de interação foi 59,94%. Foram contabilizados 730 visitantes florais pertencentes a
29 morfoespécies, sendo 657 no monitoramento diurno e 73 no monitoramento noturno. A principal
ordem observada foi Lepidoptera. A subordem Rhopalocera foi a mais abundante entre os visitantes
diurnos (30,43%) e a subordem Heterocera a mais abundante entre os visitantes noturnos (50%).
Demonstraram serem polinizadores efetivos da Bauhinia forficata as morfoespécies mamangava
(Hymenoptera), mariposa-cinza (Pyrgus sp. (Lepidoptera: Hesperiidae) e a borboleta-laranja-preta
(Helyconius sp. (Lepidoptera: Nymphalidae)). Os sistemas de polinização funcionalmente efetivos para
Bauhinia forficata na área de estudo são a Psicofilia (borboletas) e a Melitofilia (mamangavas). O grau
de conectância total das teias ditróficas foi de 53,47% para as redes de visitantes diurnos e de 44% para
as redes de visitantes noturnos. Na análise da diversidade florística foram encontradas 34 espécies, o
índice de diversidade de Shannon variou entre 1,46 e 2,43 entre parcelas. As espécies Bauhinia forficata,
Acacia velutina e Strychnos brasiliensis apresentaram as maiores densidades relativas, respectivamente,
10,97%, 10,42% e 8,78%. Foi encontrada correlação entre a concentração do néctar e diversidade
florística, entre volume de néctar e diversidade de visitantes e entre a viabilidade polínica e volume e
concentração do néctar. Pode-se concluir que tanto a oferta e a qualidade dos recursos influenciaram na
atração dos visitantes, quanto a interação dos visitantes com as flores interferiu na disponibilidade dos
recursos. A quantidade, qualidade e plasticidade dos recursos florais ofertados, a atração generalista de
visitantes, a sincronia e intensidade de floração, a inaptidão à autogamia e geitonogamia, as altas taxas
de viabilidade polínica e o alto grau de conectância das teias ditróficas, são responsáveis por desencadear
importantes mecanismos ecológicos entre esta e os demais agentes do ecossistema, sendo eles:
mecanismos de compensação, de coexistência de espécies, indução do fluxo gênico e de competição e
partilhamento de recursos. Tais resultados demonstram que Bauhinia forficata é uma importante fonte
energética para a dieta de uma vasta gama de polinizadores e atua como indutora dos processos
ecológicos e do fluxo gênico na área de estudo.