Chega de ficar de fora já chegou a hora de participar: trajetória política do MMC/SC e o engajamento militante das dirigentes “jovens camponesas”
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2016-08-26Metadatos
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A presente dissertação tem por objeto de estudo o Movimento de Mulheres Camponesas de Santa Catarina, fundado em 1983 na região do Oeste Catarinense e inicialmente denominado Movimento de Mulheres Agricultoras (MMA). Buscou-se compreender a trajetória política do MMC/SC a partir de suas experiências organizativas e o processo de engajamento militante das jovens dirigentes, considerando as experiências vividas em período anterior e posterior à militância no MMC/SC. A perspectiva de análise de trajetória é baseada nas contribuições teórico-metodológicas de Pierre Bourdieu sobre tal processo. Nesse sentido, incorpora-se essa noção para evitar uma análise que siga a lógica de histórias enquanto sucessão de acontecimentos históricos, entendendo trajetória enquanto uma construção realizada a partir da consideração da série de posições que os sujeitos ocupam ao longo de suas vidas. Foram realizadas análises de documentos do movimento, análise de jornais e revistas disponíveis online na Hemeroteca Luta pela Terra , acompanhamento de um encontro do MMC e entrevistas abertas com dirigentes. A partir do material gerado construiu-se a base de dados primários para as análises da dissertação. Na década de 1980 as mulheres do campo se organizam em Santa Catarina motivadas por questões de classe e de gênero, mas pautando principalmente o reconhecimento da identidade profissional de trabalhadoras rurais e a conquista de direitos sociais de cidadania. Diante disso, organizam seu próprio movimento específico de mulheres como forma de aproximação com a política e entre o final da década de 1980 e início de 1990, as militantes do MMA passam a questionar a autonomia do movimento em relação a instituições como a Igreja e sindicatos. Já na década de 1990 foi possível evidenciar elementos que revelam os caminhos para a transição de MMA/SC para MMC/SC, sobretudo a partir as experiências organizativas do movimento, os espaços de socialização das militantes e a aproximação com o conjunto de movimentos sociais que compõe a Via Campesina e com influência das significativas transformações políticas e econômicas ocorridas no Brasil na década de 1990. A partir da consolidação do MMC do Brasil e entrada na VC, o movimento passou por diversas transformações, sendo uma delas a centralidade em debates relacionados a modelos de agricultura, o que culminou na construção de um modelo de agricultura camponesa que considera o espaço rural enquanto um espaço de vida e de diversidade, para além das questões produtivas. É nesse período que ocorre o reconhecimento da juventude enquanto ator político e o engajamento militante das jovens camponesas. As experiências das jovens são marcadas pela socialização em um rural de incertezas e de relações familiares hierarquizadas, no entanto, com a particularidade de comporem famílias com trajetórias ascendentes e envolvimento político, o que favoreceu a aproximação das jovens com o movimento. A partir do envolvimento com uma série de responsabilidades e com as práticas políticas do movimento, as jovens incorporam a identidade coletiva de camponesas, mas com base na perspectiva de um rural transformado. O movimento específico de mulheres é considerado por suas militantes enquanto um local legítimo e ideal para a militância, sobretudo pela sua leitura de indissociabilidade entre questões de classe e de gênero.