Efeito da intensidade de pastejo na estrutura da comunidade de aranhas do solo
Resumo
A fauna do solo assume um papel estratégico como bioindicadora do nível de intensificação
que é possível imprimir ao agroecossistema. As aranhas do solo podem auxiliar na compreensão
dos efeitos das práticas agrícolas em sistemas que buscam aliar a intensificação do uso do solo
com a sustentabilidade. O objetivo deste estudo foi conhecer a estrutura da comunidade de
aranhas do solo de um Sistema Integrado de Produção Agropecuária (SIPA), constituído pela
sucessão soja-pastagem e submetido a diferentes intensidades de pastejo. O estudo foi
conduzido em um SIPA, em São Miguel das Missões/RS, que desde a sua instalação em 2001
é cultivado com a sucessão de aveia preta (Avena strigosa Schreb.) e azevém (Lolium
multiflorum Lam.) para o pastejo contínuo dos bovinos no inverno e soja [Glycine max (L.)
Merrill] para a produção de grãos no verão. O experimento compreende uma área total de
aproximadamente 23 hectares, divididos em 14 parcelas que variam de 0,8 a 3,6 hectares, de
acordo com os tratamentos aplicados. Os tratamentos baseiam-se em quatro alturas de pastejo:
10, 20, 30 e 40 cm e áreas sem pastejo (SP) como testemunhas. As aranhas foram amostradas
com armadilhas de queda (pitfall traps) em dois anos e em duas épocas: imediatamente após a
saída dos bovinos da pastagem, em novembro de 2014 e de 2015; e imediatamente após a
colheita da soja, em maio de 2015 e de 2016. Foram avaliadas a abundância total; a abundância
de jovens, machos e fêmeas; a riqueza de famílias, espécies e guildas de aranhas. Os efeitos da
altura do pasto na abundância e riqueza foram examinados através da análise de covariância,
por modelos de regressão linear. A composição da comunidade de aranhas foi avaliada através
de padrões de presença e ausência das espécies, famílias e guildas de acordo com o gradiente
ambiental. Também foram realizadas análises de variância na composição das famílias,
espécies e guildas, após pastagem e após soja, através da análise multivariada permutativa de
variância usando matrizes de distância Bray-Curtis. Coletou-se um total de 3.055 aranhas,
classificadas em 23 famílias e 45 espécies. A composição de famílias, espécies e guildas diferiu
significativamente entre a pastagem e a soja. Linyphiidae e Theridiidae foram mais abundantes
após pastagem, enquanto Theridiidae e Lycosidae foram mais abundantes após soja. Ostearius
melanopygius (O. Pickard-Cambridge, 1880) e Mermessus sp. foram mais frequentes após
pastagem, enquanto Styposis selis Levi, 1964 e Metaltella simoni (Keyserling, 1878) foram
mais frequentes após soja. Após a pastagem ocorreu um maior número de aranhas construtoras
de teia em lençol, em contraste às corredoras no solo após a colheita da soja. Os modelos
lineares sustentam que a abundância e riqueza de aranhas do solo é fortemente influenciada
pela altura do pasto, principalmente após a pastagem. No entanto, após a colheita da soja, os
resíduos vegetais adicionados ao solo pela pastagem de inverno, ainda exercem influência e
determinam, com menores valores, a variação na abundância das aranhas em função da altura
do pasto. A redução na intensificação do manejo do pasto beneficia a abundância e riqueza de
aranhas no Sistema Integrado de Produção Agropecuária.
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