Síndrome congênita do Zika Vírus e a pobreza multidimensional das mães paraibanas: uma análise comparativa a partir da aplicação do método Alkire-Foster
Resumo
A conceituação e mensuração da pobreza perpassam por amplas e complexas discussões, o que antes era limitado ao caráter de posse material das pessoas e medida, em caráter unidimensional, pela renda per capita dos indivíduos hoje é tratada de modo multidimensional, considerando diversos aspectos para a manutenção de uma vida digna. A abordagem das capacitações do economista indiano Amartya Sen explora as diversas dimensões do desenvolvimento humano contribuindo para o conceito de que a pobreza engloba diversas capacitações humanas de ter e levar uma boa vida, englobando dimensões como educação, renda, emprego, liberdades e saúde. Os temas ligados à saúde e pobreza vêm ganhando espaço nos últimos anos, principalmente devido a manutenção e surgimento de doenças ligadas à pobreza, comuns para os países em desenvolvimento. No Brasil desde 2014 um vetor secularmente conhecido, o Aedes aegypti conhecido pela dengue, passou a transmitir novas doenças no território nacional, entre elas a febre Zika, tendo como desdobramentos de sua infecção a Síndrome Congênita do Vírus Zika (CZS), uma condição que afeta milhares de crianças com deficiências neurológicas, como a microcefalia.Mesmo tendo conseguido erradicar por duas vezes o mosquito do território nacional, desde a década de 1970 o país não conseguiu mais por fim ao vetor, abandonando de vez as ações para a erradicação em 2004, passando a despender valores monetários apenas para o tratamento das doenças. O mosquito e suas doenças passam a afetar em especial os mais pobres, principalmente aqueles que não têm acesso ao saneamento básico e a água encanada, como é o caso do Nordeste, onde os focos de criadouros se concentram em depósitos de água improvisados no período de seca. Não coincidentemente, é no Nordeste que se concentram a maior parte dos casos de CZS, tendo a Paraíba 196 do total de casos. As maiores afetadas pela CZS, além das crianças, são suas mães, que exercem o cuidado integral. Neste trabalho foram mensurados através do método Alkire-Foster indicadores de pobreza, como a incidência (H), o hiato (A) e a incidência de pobreza ajustada M₀ para dois grupos de mães residentes da Paraíba que tiveram seus filhos em 2015, o Grupo 1 referente as mães de filhos com CZS, e o Grupo 2 de mães de filhos sem CZS. Partiu-se da hipótese que o Grupo 1 apresentaria uma incidência de pobreza maior, e um maior valor de privação em especial nos indicadores referentes a Saúde e Condições Sanitárias. A Hipótese foi confirmada parcialmente, uma vez que apesar do Grupo 1 apresentar (H) maior, o Grupo 2 apresentou um valor de (A) maior, indicando um valor de privação mais alto nos indicadores utilizados. Indicando que apesar de ainda não terem sido afetadas, o Grupo 2 torna-se vulnerável à possíveis consequências da falta de infraestrutura de fornecimento de água e de esgotamento sanitário adequados, sendo estes os fatores chaves da condição de pobreza do Grupo 1.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: