Importância dos sistemas agroflorestais para agricultura familiar na Amazônia Brasileira: um estudo de caso sobre o Projeto Reca
Abstract
Sistemas Agroflorestais (SAF) podem ser vistos como uma alternativa de produção sustentável aliada à conservação ambiental, que proporcionam benefícios ambientais, sociais e econômicos. Com a crescente pressão do agronegócio ocasionando a destruição da Floresta Amazônica, fortalecer práticas agroecológicas é imprescindível para manutenção da floresta em pé. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo geral avaliar a importância dos sistemas agroflorestais para agricultura familiar, ao se analisar a influência social, ecológica e econômica para geração de renda e valorização da sociobiodiversidade como estratégia de método de restauração e sistema produtivo na Amazônia. O estudo foi conduzido entre janeiro de 2017 e janeiro de 2018 em seis sistemas agroflorestais de agricultores familiares do Projeto RECA, localizados no ramal Baixa Verde, distrito de Nova Califórnia, Rondônia. Os SAF selecionados possuem histórico da área, arranjos, práticas de manejo, espécies e idades diferentes: SAF 1 (28 anos), SAF 2 (10 anos), SAF 3 e 4 (4 anos) e SAF 5 e 6 (1 ano). Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com as famílias agricultoras para compreender a função social dos SAF, com enfoque nos motivos de adoção desse sistema. Para analisar a função ecológica, foram realizadas análises químicas do solo, que consistiram na determinação de: matéria orgânica do solo (MOS), pH em água, teores de potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), fósforo (P) e alumínio (Al). Foram determinados a capacidade de troca de cátions efetiva (CTC efetiva), acidez potencial (H+Al), saturação por alumínio (m%) e saturação por bases (V%). Realizaram-se a mensuração da camada de serapilheira avaliada pelo Teste Tukey a 5% de probabilidade, e cobertura de solo de acordo com a escala visual de Braun-Blanquet. Foram determinados índices de diversidade de Shannon, equabilidade de Pielou, similaridade florística pelo índice de Jaccard e análises de correlações entre os SAF e os atributos químicos do solo, cobertura do solo, espessura de serapilheira e os atributos florísticos, por meio da correlação de Pearson e da análise de correspondência canônica (CCA). A avaliação financeira dos SAF mais antigos (SAF 1 e 2), foi realizada utilizando os indicadores financeiros: VPL (Valor Presente Líquido), a TIR (Taxa Interna de Retorno), Relação B/C (Benefício/Custo), Payback descontado (tempo de recuperação do capital) e VAE (valor anual equivalente) com taxa de juros de 2,5% a.a. Os SAF representam a principal fonte de renda para as famílias entrevistadas e a principal motivação de adoção agroflorestal foi desenvolver um sistema de produção capaz de gerar renda e reflorestar as áreas desmatadas. As espécies frutíferas arbóreas são predominantes e a Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng.) Schum., é o carro chefe dos SAF estudados. Ao longo dos anos, os SAF foram sendo diversificados e a sua principal finalidade é alimentação da família (60%). Com relação aos resultados obtidos quanto aos atributos florísticos, o SAF 3 apresentou os maiores índices de diversidade e equabilidade entre os SAF estudados, os menores valores de diversidade foram encontrados no SAF 1 e de equabilidade no SAF 4, e não houve similaridade alta entre os SAF. Em relação aos atributos químicos do solo, os solos das áreas de estudo são ácidos, com fertilidade natural baixa, principalmente de macronutrientes. As correlações entre os SAF e os atributos químicos do solo, espessura de serapilheira, cobertura do solo e atributos florísticos, demonstraram correlações significativas (p<0,05) e todas foram consideradas muito fortes (r≥0,7) de acordo com a correlação de Pearson. Os SAF com manejo orgânico apresentaram maior percentual de cobertura do solo (87,5%) e maior espessura de serapilheira. Na avaliação financeira, os SAF apresentaram-se viáveis economicamente com VPL positivo para os dois SAF analisados, R$55.916,87 (SAF1) e R$57.826,16 (SAF2). Os diferentes anos de idade dos SAF estudados interferem na MOS e acúmulo de nutrientes. A principal diferença em relação ao tempo de SAF pode ser o teor de fósforo (P2O5) no SAF 1 (28 anos). O tempo de manejo sem revolvimento do solo, o bombeamento dos nutrientes e ciclagem de nutrientes mediante queda das folhas (ou podas) e com manutenção dos resíduos culturais na superfície pode ter influenciado em uma possível melhoria no valor do nutriente. Já SAF mais novos (SAF 5 e 6) apresentaram teores elevados de Al, H+Al e m no solo. O manejo realizado nas áreas pode exercer grande influência na disponibilidade de nutrientes para o solo e técnicas de manejo como uso de plantas de cobertura e poda, podem possibilitar a melhoria na manutenção da qualidade do solo.
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