Contra a aridez: Iris Murdoch e o papel da literatura na filosofia moral
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Data
2016-05-31Primeiro membro da banca
Klaudat, André Nilo
Segundo membro da banca
Satter , Janyne
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Esta dissertação consiste numa revisão do projeto filosófico de Iris Murdoch, visando
compreender o papel da literatura na filosofia e argumentação moral. As possíveis
contribuições da literatura para esses propósitos tem sido examinadas por autores
contemporâneos que assumem duas posições diferentes: de um lado, estão aqueles autores que
sustentam que a literatura atua como forma ampliada de argumento moral e, de outro, estão os
que sustentam que textos literários servem como ilustrações para argumentos morais, não
sendo filosofia moral. Essa tradição foi problematizada no primeiro capítulo, no qual
expusemos de que modo a literatura funcionaria como argumento moral, considerando a
interpretação de Crary acerca das perspectivas preconizadas por Ryle, Raphael, Nussbaum e
Diamond. Crary compreendeu a ligação entre filosofia e literatura a partir de duas
concepções, a saber: a concepção estreita (se mantém a forma argumentativa silogística usual
da filosofia, e a literatura serve como ilustração para contextos morais) e a concepção ampla
(argumentos devem superar sua forma clássica incluindo a receptividade emocional, e por isso
não é incorreto dizer que textos literários são próximos da filosofia em valor). O segundo
capítulo consiste numa recapitulação do projeto filosófico de Murdoch. Ela criticou a
tradicional perspectiva de que a vida moral limita-se ao seguimento de propósitos normativos
que devem funcionar como guia para a ação correta, sob um ponto de vista kantiano ou
utilitarista. De acordo com Murdoch, a agência moral não precisa focar apenas em buscar por
um comportamento normativizado por regras imparciais de ação, mas perseguir um
melhoramento pessoal, majoritariamente determinado pela correção da nossa visão ou textura
da vida. Isso quer dizer que seres humanos são subjetivamente complexos, e isso
inegavelmente determina como agem e compreendem o mundo. A tarefa da moralidade,
então, é reparar a vida interior dos sujeitos, isto é, é auxiliar na superação dos nossos
egoísmos e ilusões. Essa correção moral dependeria do Bem (platônico), que existe
transcendentalmente, e nos direciona para a objetividade, ao altruísmo e às virtudes. A fruição
do Bem ocorre através de objetos que o contenham, tal como os textos literários e as várias
technái (aprendizagem de línguas, ofícios) que exigem humildade para sua apreensão. No
terceiro capítulo, analisamos, mais especificamente, o papel da literatura na filosofia de
Murdoch. Ela argumenta que a literatura propicia a aprendizagem de virtudes na medida em
que observamos as características das personagens, e selecionamos quais delas são desejáveis
ou ruins, e a partir disso ganhamos a oportunidade de aprimorarmos o nosso caráter. Textos
literários são objetos que contém o Bem, e podem nos afastar do nosso natural estado de
egoísmo, pois nos fazem perceber as qualidades que precisamos buscar ou abandonar, e por
isso é um exercício moral. Por fim, procuramos fornecer elementos para sustentar a tese de
que Murdoch admite a literatura como um dos meios de se pensar a moralidade, ainda que
filosofia e literatura sejam produções intelectuais distintas, devendo fazer parte do consumo
humano apto a aperfeiçoar a autocompreensão moral.
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