Teorias da saúde e fenomenologia da enfermidade
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Data
2021-03-08Primeiro membro da banca
Williges, Flávio
Segundo membro da banca
Rodrigues, Fernando
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Mostrar registro completoResumo
O presente trabalho tem como escopo principal fornecer uma abordagem fenomenológica da
enfermidade. Nele são examinados três enfoques fenomenológicos sobre a experiência da doença.
Primeiramente são apresentadas as principais teorias da saúde, a saber: a teoria hipocrática, a
bioestatística e a holística (na qual a abordagem fenomenológica está situada). De acordo com a
concepção hipocrática, a saúde consiste em uma relação de equilíbrio e balanço entre os diferentes
humores corporais, qualidades da constituição elementar de cada indivíduo; por sua vez, a teoria
bioestatística, considera a saúde como a ausência da doença. Nesse caso, através da análise estatística
de uma parcela populacional se estabelece padrão de normalidade no qual qualquer desvio é considerado
doença; já a teoria holística pretende fornecer uma perspectiva global sobre a pessoa, considerando a
saúde enquanto uma série de habilidades requeridas para a ação no ambiente, segundo circunstâncias
padrão. Nesse caso os fins e as circunstâncias são determinados de forma normativa, tomando critérios
como bem-estar e uma noção mínima de felicidade. A fenomenologia da enfermidade, embora situada
no âmbito das teorias holísticas da saúde, considera especificamente a experiência vivida em primeira
pessoa da doença. Nesse sentido, o trabalho reconstrói a concepção de experiência a partir de três
abordagens fenomenológicas. A primeira, chamada de paradigma do corpo vivido, privilegia os
aspectos da corporeidade e apresenta uma concepção fenomenológica acerca da reunião de estruturas
essenciais constituintes da experiência; a segunda abordagem apresenta uma perspectiva
fenomenológico-hermenêutica, na qual os aspectos existenciais do encontrar-se (Befindlichkeit) e da
disposição afetiva (Stimmung), assumem o primeiro plano na descrição da estrutura da experiência
enferma; a terceira abordagem, por sua vez, apresenta uma concepção de experiência cujo núcleo
fenomenológico gira em torno do sentimento de certeza corporal. Este sentimento se caracteriza por ser
básico e de fundo, garantido um senso de realidade e familiaridade com o mundo. Por fim, a experiência
da enfermidade é exposta a partir do núcleo temático fenomenológico das abordagens reconstruídas. No
caso da perspectiva do paradigma do corpo vivido, a enfermidade é descrita a partir da experiência do
aparecimento do corpo como presença estranha e alienígena, mas também em seu aspecto disfuncional
(dys-appearance). Essa experiência também é descrita em termos de uma série de perdas como
totalidade, controle, etc. Com relação à abordagem fenomenológico-hermenêutica, a enfermidade
emerge como a experiência do mundo hostil e não familiar (unhomelikeness), revelando a disposição
afetiva do estranhamento (uncanny). A última abordagem apresenta a experiência da enfermidade como
dúvida corporal, a partir de diversas transformações, elucidadas por fim nos termos de uma perda da
continuidade experiencial, transparência do corpo e confiança corporal. Entre os resultados obtidos,
destaca-se o elemento central promovido pela análise e descrição da experiência da doença para ciências
da saúde. Nesse caso, destaca-se ainda o papel central da fenomenologia ao viabilizar um aporte teórico
para investigações desta qualidade. O trabalho mostra ainda que o fenômeno da enfermidade oferece
uma perspectiva privilegiada, tanto para a filosofia, quanto para a investigação da experiência, na
medida em que traz à tona estruturas tácitas.
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