A vida por trás dos galhos das macieiras: (o)posições sociais e representação classista na cadeia produtiva da maçã em Vacaria - RS
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Data
2020-02-27Primeiro membro da banca
Medeiros, Leonilde Servolo de
Segundo membro da banca
Ferreira, Laura Senna
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Nas últimas décadas, a produção agropecuária brasileira vem se modernizando e se
inserindo nas cadeias globais de comercialização. Entre os setores que têm se sobressaído
nesse processo, estão a produção de grãos e de frutas, como a maçã. Praticamente toda a
produção brasileira de maçãs é realizada nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e
o maior produtor individual de maçãs do país é o município de Vacaria-RS. Neste contexto, o
objetivo deste trabalho é compreender o processo de formação da cadeia produtiva da maçã
em Vacaria-RS, com os atores e lógicas sociais envolvidos, a constituição da representação
das classes sociais ligadas à atividade e as principais questões em disputa na relação capitaltrabalho nesse contexto nas últimas décadas. Para alcançar o objetivo proposto, assumimos
como base teórica a teoria de Pierre Bourdieu e realizamos entrevistas semiestruturadas com
os dirigentes sindicais locais, observações diretas, análise de dados secundários, como os
produzidos pelo IBGE, e do conteúdo do principal jornal local e das convenções coletivas de
trabalho realizadas entre 1994 e 2019. A partir dos dados analisados, constatamos que a
produção local de maçãs teve início na década de 1970, a partir de uma disputa políticoeconômica local, e a cadeia produtiva da maçã se consolidou ao longo das décadas seguintes,
com a concentração da atividade entre grandes empresas locais. Com o crescimento contínuo
da produção de maçãs e da produtividade, houve também um significativo crescimento do
número de trabalhadores assalariados rurais temporários e permanentes contratados para
realizar o plantio, a poda, a colheita, a classificação e a embalagem das maçãs. E a
representação dessas classes rurais tem sido feita, principalmente, pelo Sindicato de
Trabalhadores Rurais e pelo Sindicato Rural de Vacaria. Diante da assimetria de poder entre a
classe patronal e a classe dos trabalhadores, houve diferenças na forma de organização desses
sindicatos. No Sindicato dos Trabalhadores Rurais os dirigentes têm apresentado uma maior
profissionalização, formação político-sindical, cargos remunerados e mandatos mais longos.
Já no Sindicato Rural, os dirigentes têm alta rotatividade e não possuem cargos remunerados
nem formação sindical. Dentre as principais atividades desenvolvidas por ambos os sindicatos
está a negociação das convenções coletivas de trabalho, que são realizadas anualmente, desde
1994. No caso dos trabalhadores rurais de Vacaria, apesar dos avanços alcançados pelo seu
sindicato nas convenções coletivas, como ganhos reais no salário-base da categoria e
melhores condições de trabalho, o setor patronal tem conseguido manter grande parte das
cláusulas que favorecem os proprietários rurais, garantindo a manutenção das posições sociais
estabelecidas, o que foi facilitado pela aprovação da reforma trabalhista de 2017.
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