Efeitos da ancoragem em julgamentos e decisões no mercado imobiliário: uma análise a partir do nível de conhecimento dos decisores
Resumo
Os indivíduos normalmente têm dificuldade em identificar as heurísticas que afetam
suas tomadas de decisões (BAKER e NOFSINGER, 2002). No entanto, Menkhoff, Schmidt e
Brozynki (2006) revelam que indivíduos conhecedores da influência das heurísticas no
processo decisório podem apresentar menos episódios de racionalidade limitada se
comparados aos indivíduos alheios a esse conhecimento. Segundo Mussweiler et al (2000), a
Ancoragem consiste em uma das influências mais notáveis em julgamento e tomada de
decisão. Neste contexto, o objetivo principal desta pesquisa consistiu em verificar a existência
da heurística da Ancoragem nas estimativas numéricas de especialistas e não-especialistas em
mercado imobiliário, quando submetidos a tarefas experimentais relacionadas ao campo de
domínio do especialista e fora do seu campo de conhecimento, tendo em vista Thorsteinson et
al. (2008), os quais argumentam que os efeitos da Ancoragem são reduzidos quando sujeitos
decisores têm mais conhecimento acerca dos problemas em questão. Assim, foi realizado um
quase-experimento com 324 sujeitos decisores, divididos em Grupos de Calibragem e Grupos
Experimentais, por meio da aplicação de duas tarefas decisórias (T1 e T2), utilizando-se o
Modelo de Jacowitz e Kahneman (1995). Ressalta-se que muitos estudos sobre Ancoragem
têm sido realizados no sentido de verificar a presença da heurística da Ancoragem no
processo de julgamento e tomada de decisão. No entanto, este estudo, além da proposta de
estudar os efeitos da Ancoragem durante o processo decisório relacionado a decisões
quantitativas, apresentou como principal contribuição adicional a verificação da manifestação
da Ancoragem quando uma variável de controle (conhecimento) é retirada da tarefa decisória.
Tal procedimento é denominado por Cozby (2006) como um Teste de Manipulação,
consistindo em uma tentativa para medir diretamente se a manipulação de uma variável tem o
efeito pretendido sobre os respondentes. Os resultados obtidos, por meio do teste estatístico t
para amostras independentes, demonstraram que há evidências da heurística da Ancoragem no
processo decisório dos indivíduos integrantes do Grupo Experimental de não-especialistas
(âncora baixa e âncora alta), tanto em T1 quanto em T2. No que tange aos especialistas, foi
possível perceber que em T1 há evidências da heurística da Ancoragem, corroborando com os
resultados encontrados por Jacowitz e Kahneman (1995) e Luppe (2006). No entanto, em
relação à segunda tarefa decisória (T2), observou-se que as diferenças de médias não foram
estatisticamente significantes, inferindo-se que, em T2, não são encontradas evidências da
Ancoragem no processo decisório dos especialistas, contrariando os resultados encontrados
por Norfhcraft e Neale (1987) e Dorow (2009), os quais encontraram evidências da
Ancoragem no processo decisório de corretores imobiliários quando foram submetidos à
realização de estimativas referentes ao mercado de imóveis.