O papel da fantasia em crianças face ao ato cirúrgico
Resumo
A cirurgia é uma experiência que traz consigo exames incômodos e mal-estares,
tornando-se, muitas vezes, uma experiência incompreensível e traumatizante. No caso da
cirurgia pediátrica, existe a crença de que a criança, na medida em que, por estar com o
aparelho psíquico ainda em formação, nem sempre tem condições para compreender e lidar
com o que a cirurgia mobiliza. Estes procedimentos, naturalmente, são acompanhados de
inúmeras fantasias, como tentativa de defesa e de reestabelecimento de equilíbrio emocional
para conseguir enfrentar essa situação. Para tanto, realizou-se estudo qualitativo, descritivo e
exploratório que se propôs a investigar as fantasias presentes em crianças no dia anterior à
cirurgia, dentro de um referencial teórico psicanalítico. Foram incluídas sete crianças, de
ambos os sexos, com idade de cinco a doze anos, internadas em hospital público para
realização de cirurgia durante o ano de 2014. Utilizaram-se como instrumentos A Hora do
Jogo e o Teste das Fábulas, aplicados em um único momento, tendo sido gravados e
transcritos na íntegra; os dados passaram por análise de conteúdo. Os participantes
expressaram a percepção de si enquanto defeituosos, bem como sentimentos de fragilidade,
desamparo e diversos medos. Identificou-se a presença de fantasias atemorizantes e
elaborativas como tentativa de defesa e de atribuir sentido à experiência cirúrgica. Concluiuse
que a fantasia manteve seu papel paradoxal, isto é, ao mesmo em que se constituiu em uma
defesa regressiva, revelou-se uma estrutura protetora, auxiliando a atribuir sentido pessoal à
cirurgia.