Representações identitárias na campanha Keep Walking, Brazil: as relações de cultura e poder na narrativa publicitária
Resumo
No final de 2011 a marca de uísque escocesa Johnnie Walker lançou sua primeira campanha publicitária criada especificamente para um país, a Keep walking, Brazil, assinada pela agência paulista Neogama/BBH. Além do audiovisual intitulado Gigante, a campanha contou também com 65 audiovisuais postados no endereço eletrônico da marca, os quais apresentavam entrevistas com personalidades eleitas por ela como gigantes brasileiros. Keep walking, Brazil é um exemplo de campanha publicitária que no propósito de se relacionar econômica e culturalmente com seu público-alvo apresentou narrativas verbais e não-verbais que realizam referências à identidade nacional. Esta pesquisa ocupa-se da investigação das representações de brasilidade presentes na referida campanha. A problemática sustenta-se na premissa de que falar em cultura é falar em relações de domínio e que na busca por se compreender a identidade e a cultura brasileira deve-se considerar um histórico de disputas de interesses de diferentes grupos sociais. Com base nesse pressuposto, apresenta-se como hipótese a ideia de que as representações presentes nas narrativas da referida campanha revelem-se inovadoras e positivas na sua superfície, mas que sob um olhar mais aprofundado mantém relações que são resultantes da concepção simplista de um Brasil cuja história teria sido forjada pelos determinismos de meio e raça. Como objetivo geral pretende-se investigar quais as relações de poder que sustentam as representações da brasilidade na campanha Keep walking, Brazil. Os objetivos específicos ficaram definidos em: a) identificar os principais traços da identidade nacional brasileira com base nas suas representações históricas mais recorrentes, especialmente aquelas presentes nas narrativas midiáticas, empregando-as como parâmetro analítico; b) caracterizar a narrativa da campanha publicitária Keep walking, Brazil, tendo em vista as estratégias de localização orientadas pela cultura nacional brasileira; c) verificar se as representações de brasilidade presentes na campanha atualizam a forma pela qual a identidade cultural do país é compreendida; e d) compreender como as formas simbólicas propostas na campanha articulam relações de poder da marca para com os consumidores brasileiros, dirigindo à identidade nacional a intenção de domínio cultural. Para a análise foi empregada a proposta teórico-metodológica de Thompson (1995), a qual serve à interpretação das formas simbólicas e das relações de dominação delas originadas, a Hermenêutica de Profundidade (HP). Ao findar da investigação, pode-se perceber que as representações da brasilidade presentes na campanha Keep walking Brazil não atualizaram a forma pela qual a identidade cultural do país é compreendida. Neste sentido, persistiram resquícios de um ponto de vista colonialista, embora os consumidores brasileiros a tenham recebido como inovadora em termos de representação da identidade nacional.
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