A articulação entre ethos e efeitos de sentido: uma visão enunciativa sobre articuladores textuais, pronomes e verbos em textos do vestibular da UFSM
Resumo
Esta pesquisa tem por objetivo identificar as categorias de articuladores discursivo-argumentativos, pronomes e verbos em textos do gênero artigo de opinião, provenientes do processo seletivo (PS) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) de 2014, e analisar os possíveis efeitos de sentido decorrentes do emprego dessas categorias, colaborando para traçar a imagem discursiva do locutor do texto. Para isso, a perspectiva teórica e metodológica que embasa este estudo é a Linguística da Enunciação, por compreendermos que essa perspectiva permite um melhor entendimento acerca da imagem de um sujeito, o ethos discursivo, por meio de mecanismos linguísticos empregados na enunciação e recuperáveis a partir da análise de marcas deixadas no enunciado, seu produto. Como embasamento teórico, tomamos como diretrizes os estudos de Amossy (2014), Bagno (2013), Benveniste (1989; 1991), Cunha e Cintra (2008), Fiorin (2016), Flores e colaboradores (2008; 2009; 2013), Moura Neves (2011), Koch e Elias (2016), entre outros autores. Metodologicamente, analisamos 23 exemplares do gênero artigo de opinião. Quantitativamente, a análise desses textos consistiu na identificação, descrição e categorização dos articuladores textuais, pronomes e verbos. Qualitativamente, de acordo com os métodos da transversalidade enunciativa (FLORES, 2010) e do paradigma indiciário (GINZBURG, 1989), refletiu-se sobre os efeitos de sentido decorrentes do uso dessas categorias que emergem da materialidade textual, contribuindo para traçar o ethos do locutor do texto. Os resultados alcançados na análise quanti-qualitativa dão conta de explicitar que as relações de conjunção/soma, contrajunção/oposição e especificação/exemplificação dos articuladores discursivo-argumentativos são as mais representativas e apresentam sentidos variados a cada enunciação. Entretanto, seu uso marca relações de sentido e faz emergir a subjetividade do locutor a partir de escolhas para a defesa da sua tese. No que diz respeito aos pronomes, cuja predominância é da primeira pessoa do plural, e verbos, que têm maior representatividade da primeira e terceira pessoas do plural, notamos que, ambas as categorias, revelam efeitos de subjetividade e objetividade do locutor ao longo do texto. Esses efeitos relacionam-se com o processo de apropriação da língua pelo locutor. Assim, ao posicionar-se na terceira pessoa do plural, o locutor distancia-se do grupo dos jovens, colocando-se como não pertencente a ele; o que confere um efeito de maior objetividade e autoridade ao texto. Porém, ao posicionar-se na primeira pessoa do plural, assim como no caso dos pronomes, ele se coloca como pertencente ao grupo dos jovens, aproximando-se do interlocutor, como um ―porta-voz‖ dessa coletividade. Diante disso, com relação ao ethos, encontramos a tendência de quatro vozes que o compõe, que nomeamos como: uma dogmática, uma engajada, uma experiente e uma didática. Por fim, com esse estudo enunciativo, que considera a língua em funcionamento, com marcas que emergem do sujeito e contribuem para traçar seu ethos discursivo, objetivamos, em um primeiro momento, fazer uma reflexão linguística em uma materialidade discursiva para, em estudo posterior, enfocar numa visão didática, no ensino de língua materna, sobretudo, na Escola Básica, considerando uma articulação e/ou uma interdisciplinaridade entre Linguística Textual e Linguística da Enunciação.
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