Epidemiologia e investigação de mecanismos de resistência aos carbapenêmicos e polimixinas em bacilos gram-negativos multirresistentes
Resumo
A resistência bacteriana é um problema de saúde pública global e acarreta em infecções hospitalares recidivantes, altas taxas de morbimortalidade e elevado impacto financeiro. Os carbapenêmicos e polimixinas são antimicrobianos extensamente utilizados para o tratamento de microrganismos Gram-negativos multirresistentes. Diversos mecanismos de resistência a esses fármacos já foram relatados, como produção de β-lactamases (exemplo, Klebsiella pneumoniae carbapenemase, metalo-β-lactamases e oxacilinases), modificações na membrana externa (exemplo, alterações em sistemas componentes PmrAB/PhoPQ e no lipídio A) e sistemas de efluxo, limitando as opções terapêuticas. O objetivo deste estudo foi determinar o perfil epidemiológico de 3069 isolados clínicos de bacilos Gram-negativos multirresistentes oriundos do Hospital Universitário de Santa Maria, entre os anos de 2015 e 2017, e detectar a resistência aos carbapenêmicos e polimixinas por métodos fenotípicos (difusão de disco com inibidores enzimáticos, Carba-NP, Blue-Carba e Polimixina NP) e moleculares (Reação em Cadeia da Polimerase e sequenciamento). Verificou-se a presença de KPC em 80% das enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos (56/70), bem como a presença do gene blaKPC por PCR convencional. Os testes de difusão de disco com inibidores enzimáticos, Carba-NP e Blue-Carba demonstraram 100% de sensibilidade e especificidade para detectar a presença de carbapenemases. O teste Polimixina NP demonstrou 100% de sensibilidade e especificidade para detectar resistência à colistina em 340 bacilos Gram-negativos (enterobactérias, Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa) com sensibilidade reduzida às polimixinas. Entre eles, o gene mcr-1 mediado por plasmídeos esteve presente em um isolado de Escherichia coli resistente à colistina (CIM 64 μg/mL) recuperado de hemocultura, detectado por PCR convencional e confirmado por método Sanger de sequenciamento. A capacidade de transmissão do gene foi investigada por conjugação bacteriana com E. coli J53 resistente a azida, onde obteve-se um transconjugado resistente à colistina (CIM 4 μg/mL) e carreador do gene mcr-1. Através de uma análise temporal da resistência antimicrobiana em 2659 isolados de K. pneumoniae entre os anos de 2015 e 2017, observou-se um aumento de resistência à colistina (532,8%), amicacina (142,8%), meropenem (85,1%), imipenem (79,5%), tigeciclina (77,7%), ciprofloxacino (66,7%), gentamicina (51,9%) e ertapenem (36,1%). Em suma, os principais genes detectados no estudo foram blaKPC e mcr-1 e os testes fenotípicos apresentaram ótima performance, possibilitando a utilização na rotina laboratorial. Frente ao exposto, torna-se fundamental reforçar a implementação de medidas de controle de infecção mais rigorosas e planejamento terapêutico adequado, uma vez que esse fenótipo apresentado é acelerado pela disseminação de clones de alto risco e genes de resistência mediados por elementos genéticos móveis, como plasmídeos, bem como uso indiscriminado de antimicrobianos.
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