Colaboração e ressignificação de práticas de ensino e aprendizagem de inglês na escola pública: aventuras e desventuras em uma 3ª série do ensino médio
Resumo
Estudos sobre o ensino e a aprendizagem de inglês como língua adicional (ILA) na escola
pública (COELHO, 2005; PAIVA, 2007; TICKS, 2008; SCHERER; MOTTA-ROTH, 2015;
CUNHA; STURM, 2015; PIMENTA; MOREIRA; REEDIJK, 2016) mostram que os desafios
dessa tarefa perpassam questões de metodologia, (des)interesse dos alunos,
desvalorização da profissão e baixa remuneração do professor, carga horária insuficiente da
disciplina entre outros. Nesse cenário, propostas de intervenção colaborativa em contextos
escolares (TICKS, 2008; PASSONI, 2012; TICKS; SILVA; BRUM, 2013; SILVA, 2014) têm
buscado criar espaços reflexivos com vistas à ressignificação de práticas e à promoção de
aprendizagens emancipatórias e colaborativamente orientadas. Assim, nesta investigação,
buscamos analisar o processo reflexivo e colaborativo, desenvolvido dentro de uma
proposta de ensino de ILA socialmente situada na escola pública, de modo a ressignificar os
discursos e as práticas dos participantes (professor e alunos) sobre ensinar e aprender
inglês nesse contexto. Para tanto, inicialmente, investigamos as representações dos alunos
sobre o ensino e a aprendizagem de inglês e os papéis de professor e de aluno nesses
processos. Em seguida, iniciamos o processo de implementação da proposta de ensino de
ILA socialmente situada, que envolveu práticas de leitura que subsidiaram a produção
escrita e, ao final, a produção de um exemplar do gênero apresentação oral em língua
inglesa. O desenvolvimento da proposta de ensino buscou oferecer espaços de reflexão e
ressignificação de representações sobre ensinar e aprender inglês e de papéis de professor
e de aluno. A proposta pedagógica, a análise e a reflexão dos discursos produzidos ao
longo do processo foram teoricamente sustentados pela Pesquisa Colaborativa
(MAGALHÃES, 2002), pela Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOGH, 1992; 2003), pela
Argumentação (LEITÃO, 2009; 2011), pela Análise Crítica de Gêneros (MEURER, 2002;
MOTTA-ROTH, 2008b) e pela perspectiva sociocultural de aprendizagem (VYGOTSKY,
1934/2001). A análise das representações iniciais dos participantes evidenciou um
paradigma de aprendizagem da língua arraigado a perspectivas pedagógicas tradicionais de
repetição e memorização gramatical (COPE; KALANTZIS, 2015), fazendo emergir papéis de
professor como fornecedor/facilitador da aprendizagem e de aluno como
receptor/beneficiário do conhecimento transmitido pelo professor, os quais foram mantidos
no desenrolar do processo. Ao final, entretanto, percebemos movimentos tímidos no
discurso dos alunos em direção à tomada de consciência de que aprender inglês pode se
dar além da memorização gramatical e de que os aprendizados adquiridos se mostram
válidos para outras situações externas à sala de aula. Contudo, essas representações ainda
são frágeis, dado que foram construídas dentro de um processo descontinuado, marcado
por inúmeras interrupções (paralisações e greves). Da mesma forma, guardam ecos do
discurso do Ensino Fundamental, pautado na repetição, e que também são recuperados na
prática do professor que conduziu o processo, evidenciando as fragilidades e inseguranças
inerentes à tarefa de ensinar nesse contexto, mas que dão a exata medida de que fazer a
diferença na escola pública significa ultrapassar todas essas dificuldades.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: