Um olhar sobre (nos)otros: o documentário brasileiro na representação das identidades culturais em territórios fronteiriços
Resumo
A presente tese é resultado de uma investigação sobre como o cinema documentário brasileiro de curta e média-metragem representa as identidades culturais em zonas de fronteira continentais brasileiras e como essas representações evocam conhecimentos sobre as alteridades e as diferenças em territórios fronteiriços. Para tanto, foram analisados sete documentários produzidos entre os anos 2000 e 2015, dirigidos por realizadores brasileiros de estados fronteiriços com os países Uruguai, Argentina, Peru e Bolívia – A Gente Luta mas Come Fruta (AC, 2006), A Linha Imaginária (RS, 2014), Causos e Cuentos de Fronteira (RS, 2009), Continente dos Viajantes (RS, 2004), Doble Chapa (RS, 2014), Manoel Chiquitano Brasileiro (MT, 2013) e Quilombagem (RO, 2007). Os métodos utilizados no exercício interpretativo foram a análise fílmica, adicionada de pesquisa documental e bibliográfica. A partir da decupagem, os documentários foram aglutinados em dois eixos de análise que traduzem diferentes maneiras de representar a fronteira: a “Fronteira como um lugar de permanência”, em que o conjunto de filmes representa dinâmicas sociais que propiciam a fixação territorial dos sujeitos e grupos sociais pelo reconhecimento ou apropriação das culturas não dominantes; e a “Fronteira como um espaço de resistência”, em que os documentários reunidos retratam dinâmicas sociais hostis à fixação territorial pela negação e discriminação das culturas não dominantes, provocando deslocamentos e luta por sobrevivência, no sentido simbólico, físico e material. A análise dos documentários apontou para a predominância de sentidos identitários integradores nos filmes que representam as zonas fronteiriças do sul do Brasil e de sentidos identitários pautados na diferença nos documentários que representam as zonas de fronteira da região amazônica. De maneira geral, a maioria filmes analisados utilizou-se de um repertório limitado de recursos técnicos com a tendência de operar a partir da estrutura narrativa clássica, pela qual a linearidade espaço-temporal e a coerência de sentidos contam uma história de forma lógica. Prevaleceu o modo de representação expositivo na organização das narrativas, com o uso de depoimentos, lettering explicativo e montagem de evidência, e preponderou a ética interativa/reflexiva na forma de relação entre os realizadores e os personagens. Os diferentes pontos de vista da representação adotados pelos diretores possibilitaram identificar representações que ultrapassam a idealização ou simplificação das identidades culturais em territórios fronteiriços, pois enquanto alguns filmes reiteraram determinados estereótipos, outros documentários colocaram em evidência a perspectiva de grupos sociais que estão distantes de terem suas imagens e vozes expressas nas produções da mídia de referência, pois foram – e continuam a ser – mantidos à margem.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: