Reforma agrária e (des) continuidade na reprodução socioeconômica da agricultura familiar: a trajetória do Assentamento Macali I em Ronda Alta/RS
Resumo
A reforma agrária no Brasil costuma ser uma das questões centrais nos debates acerca das
desigualdades sociais no país. No final dos anos 70, ressurgem no Brasil os movimentos
sociais de luta pela terra. O Assentamento Macali I, localizado no município de Ronda
Alta/RS tem representatividade simbólica nesse contexto visto que foi o primeiro
assentamento criado no Brasil, em que a área foi reivindicada por meio de uma ocupação
organizada por trabalhadores rurais sem terra. Passados mais de 30 anos da criação desse
assentamento, as famílias assentadas traçaram as mais diversas trajetórias, sendo que muitas
delas não possuem mais vínculo com o assentamento. Nesse sentido a pesquisa teve como
objetivo estudar os processos de continuidade ou não na reprodução socioeconômica das
famílias assentadas, com relação aos lotes recebidos no projeto de Assentamento
Macali I – Ronda Alta/RS, entre os anos de 1998 – 2017. Para tanto foi utilizada uma
abordagem metodológica qualitativa, e os dados foram coletados por meio de entrevistas com
informantes chaves, pesquisa documental e bibliográfica, além de entrevistas com uma
amostra de ex-moradores do assentamento. O material coletado, foi analisado, a partir da
perspectiva metodológica de análise de conteúdo, contando com o auxilio de um software de
análise de dados qualitativo, o MAXQDA versão 2018, e do software MS Excel. Dentre as
análises, destaca-se que, 55% das famílias que compunham o assentamento em 1998,
possuem a propriedade do lote em 2017. Entre os principais fatores elencados como
motivadores para venda dos lotes, destaca-se a falta de sucessão, a baixa rentabilidade do
empreendimento, bem como melhores oportunidades de estudo para os filhos na cidade.
Finalmente, esta pesquisa ressalta ainda que, dos 56 lotes assentados originalmente, apenas 9
deles permanecem ainda na propriedade de assentados fundadores e que, em larga medida, a
evasão dos fundadores ocorreu antes de 1998. De fato, nos lotes comercializados após 1998,
pode-se perceber um predomínio da produção de grãos, sinalizando uma tendência a expansão
desse tipo de cultura após a venda dos lotes.
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