Avaliação do potencial terapêutico do extrato aquoso de Peumus boldus (boldo) frente à toxicidade induzida por ferro e cobre em diferentes modelos experimentais
Resumo
Os metais de transição ferro (Fe2+) e cobre (Cu2+) são elementos vitais devido as suas
propriedades de oxido-redução. Porém, o acúmulo de Fe2+ e Cu2+ na forma livre pode causar estresse
oxidativo (EO), por serem catalisadores da reação de Fenton. Esta condição pode levar a danos em
macromoléculas biológicas e está envolvida na etiologia de várias patologias, principalmente a nível
hepático e neurológico, onde Fe2+ e Cu2+ se acumulam. Logo, existe um interesse crescente na busca de
agentes que possam minimizar ou bloquear os efeitos tóxicos de Fe2+ e Cu2+. O extrato bruto de Peumus
boldus, utilizado para o tratamento de desordens hepáticas, possui propriedades antioxidantes que já
foram evidenciadas em diferentes modelos experimentais in vivo e in vitro, assim como a boldina,
principal alcaloide isolado da planta. No entanto, os possíveis efeitos farmacológicos de P. boldus sobre
a hepatotoxicidade induzida por Fe2+, bem como a possível ação protetora contra a toxicidade induzida
por Cu2+, ainda não foram explorados. Da mesma forma, ainda não há pesquisas com P. boldus e
toxicidade induzida por Cu2+ usando a Drosophila melanogaster como modelo experimental. Além das
vantagens em termos de custeio e manutenção, D. melanogaster é uma espécie bastante confiável para
estudos toxicológicos, uma vez que possui genes relacionados com a homeostase de Cu2+ que são
altamente conservados em mamíferos. Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar o possível efeito
protetor de P.boldus e boldina contra o dano oxidativo hepático induzido por Fe2+, utilizando
mitocôndrias de fígado de rato in vitro. Além disso, os efeitos oriundos da suplementação com P.boldus
sobre alterações comportamentais, bioquímicas e moleculares induzidas por Cu2+ em D. melanogaster
também foram testadas. De forma geral, verificamos que P.boldus foi mais eficiente que a boldina em
diminuir a peroxidação lipídica, a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) e o inchaço causado
por Fe2+ em mitocôndrias hepáticas. Os ensaios de avaliação da capacidade antioxidante em sistemas
não biológicos mostraram que P. boldus foi eficaz em quelar Fe2+, enquanto que boldina exibiu maior
poder redutor. As moscas expostas ao Cu2+ apresentaram uma redução no desempenho locomotor,
observado através do teste de escalada, que foi melhorado pelo tratamento com P. boldus. A exposição
ao Cu2+ diminuiu a atividade das enzimas acetilcolinesterase (AChE) e glutationa-S-tranferase (GST),
que foram revertidas aos níveis do controle pelo tratamento com P. boldus. O Cu2+ causou um aumento
na expressão de mRNA das enzimas superóxido dismutase (Sod1), catalase (Cat), tioredoxina redutase
(TrxR1), fator nuclear eritróide 2 (Nrf2), acetilcolinesterase (Ace) e dos transportadores de Cu2+,
ATPase do tipo P (Atp7A) e proteína de absorção de cobre 1 (Ctr1A). As alterações observadas na
expressão do mRNA foram protegidas pelo tratamento com P.boldus. Em conjunto, os dados obtidos
mostram que P.boldus é uma planta promissora para modular a toxicidade de Fe2+ e Cu2+, e que o extrato
de P.boldus e boldina isolada têm propriedades antioxidantes, que podem atuar em doenças hepáticas
associadas ao Fe2+ livre e ao EO. Esses resultados contribuem para o avanço das pesquisas na área de
toxicologia e farmacologia de produtos naturais, bem como para a triagem de agentes terapêuticos
promissores para tratar intoxicações ou doenças autossômicas associadas com o acúmulo de Fe2+ e Cu2+.
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