“Feito à mão e com amor”: alinhavos etnográficos acerca de saberes e fazeres de costureiras na cidade de Santa Maria/RS
Resumo
O presente estudo versa sobre o universo dos saberes e fazeres femininos, das linhas e agulhas, dos panos e das máquinas de costura que empiricamente eram e, de algum modo, continuam sendo passados de geração em geração de mulheres. Dentre os saberes e fazeres que circundam o mundo feminino, é no saber fazer da costura que reside o foco desta dissertação que possui como protagonistas as trabalhadoras a domicílio. Para tanto, meu lócus de pesquisa se concentra em maior parte na cidade de Santa Maria/RS, apesar de também ter trabalhado com duas interlocutoras que residem em outras cidades e que desempenharam um papel relevante para o desenvolvimento da pesquisa. A partir das memórias de nove mulheres costureiras acerca de suas trajetórias no mundo do trabalho, busco compreender como a prática da costura perdura enquanto saber fazer em seus cotidianos, tendo em vista as mudanças tecnológicas, demográficas e do próprio mundo do trabalho contemporaneamente. Diante de narrativas do trabalho, entrevistas, observação participante, croquis, trechos de obras literárias e memórias aliadas também às fotografias, intento “costurar”, nesta dissertação, o método etnográfico de duração e a etnografia de rua. Assim, o trabalho de campo foi realizado no ambiente da rua, dos armarinhos e no âmbito doméstico, ou seja, nas salas de costura. Ao situar a costura como um elemento de duração sempre em transformação, busquei evidenciar que a costura persiste ao longo do tempo mesmo frente às mudanças no modo de vestir e produzir roupas na nossa sociedade. Observei que a costura perdura como um trabalho predominantemente feminino e continua sendo realizado no lar considerando a possibilidade de conciliá-lo com o trabalho de cuidado de pessoas e do próprio ambiente doméstico. A costura também se preserva como um saber fazer transmitido entre mulheres de diferentes gerações. Além disso, o contexto de Santa Maria que se apresenta como uma cidade universitária e militar, favorece a permanência das práticas de costura tendo em vista a demanda de serviços por esse público como, por exemplo, a confecção de vestidos de festa e fardas militares. Essas circunstâncias revelam como a costura reverbera nas práticas, na cidade, nos corpos e na vida das mulheres costureiras.