Ácido úrico e sua associação com o dano tubular e inflamação renal em pacientes com diabetes mellitus tipo 2
Resumo
A hiperuricemia tem emergido como fator de risco para o desenvolvimento de
diabetes mellitus (DM) e, consequentemente associada ao surgimento da doença
renal do diabetes (DRD). Sabe-se que o desenvolvimento da DRD é um processo
complexo que promove alterações em diferentes porções dos rins e, embora a
hiperglicemia seja um mecanismo chave nesse processo, ela não é o único. A
inflamação tem sido evidenciada como uma importante contribuinte para a
fisiopatologia da DRD. Sabe-se que o ácido úrico é uma molécula que favorece a
inflamação, tanto a nível sistêmico quanto renal, contribuindo para o dano renal.
Além disso, o ácido úrico possui potencial para promover processos de arteriolopatia
aferente, hipertrofia glomerular, bem como o dano direto às células tubulares renais.
O dano aos túbulos renais parece ser um contribuinte primário para o
desenvolvimento da DRD e pode ser identificado precocemente pela presença de
marcadores de dano tubular. Apesar das ações descritas, ainda não se conhece
completamente o mecanismo pelo qual o ácido úrico atua no contexto da DRD.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a existência da associação entre
os elevados níveis séricos de ácido úrico e o dano tubular renal, bem como sua
relação com a inflamação renal em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM tipo
2). Foram recrutados 125 pacientes com DM tipo 2 provenientes do Hospital
Universitário de Santa Maria (HUSM), que tiveram os níveis séricos de ácido úrico e
de outros parâmetros bioquímicos mensurados. Além disso, foram quantificados os
níveis urinários da molécula de dano renal-1 (KIM-1), utilizada como biomarcador de
dano tubular, e os níveis urinários de citocinas inflamatórias como a interleucina-1
(IL-1), interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), utilizadas para
a verificação do processo inflamatório renal. Os pacientes foram estratificados em
dois grupos de acordo com os seguintes níveis de ácido úrico: <6,0 mg/dL e ≥6,0
mg/dL, e foram comparados quanto aos níveis urinários de KIM-1, IL-1, IL-6 e TNFalfa.
Os pacientes com níveis séricos mais elevados de ácido úrico foram aqueles
que demonstraram maiores níveis urinários de KIM-1 e de inflamação renal, avaliada
pela quantificação das citocinas urinárias. Também foi verificado que a inflamação
renal foi positivamente correlacionada com o processo de dano tubular, visto que
foram observadas correlações positivas entre os níveis de KIM-1 e as citocinas próinflamatórias
avaliadas neste estudo (IL-1, IL-6 eTNF-alfa). Desta forma, sugerimos
que a elevação dos níveis séricos de ácido úrico possa estar associada a um maior
grau de dano tubular e inflamação renal em pacientes com DM tipo 2. Além disso,
acreditamos que a inflamação participe consideravelmente do desenvolvimento do
dano renal tubular e que o ácido úrico possa estar promovendo esse contexto
inflamatório.
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