Alterações sexo-específicas na memória e homeostase glutamatérgica induzidas por bisfenol A em camundongos: efeito do disseleneto de difenila
Resumo
O Bisfenol A (BFA) é um desregulador endócrino com alto potencial toxicológico, utilizado na manufatura de
polímeros sintéticos, abrangendo embalagens de alimentos e bebidas. Embora os efeitos deletérios da exposição
ao BPA sejam bem relatados, principalmente nos estágios iniciais da vida, nenhuma possível intervenção
terapêutica foi desenvolvida ainda. Nesse sentido, o disseleneto de difenila, (PhSe)2, um dos compostos
orgânicos de selênio mais estudados, é uma molécula pleiotrópica e de grande potencial terapêutico em doses
farmacológicas. A literatura reporta diversos trabalhos que relatam seus mais variados efeitos em diferentes
modelos animais, entre eles modelos de prejuízo cognitivo. Dessa forma, a presente dissertação avaliou o efeito
do tratamento com o (PhSe)2 em reverter o prejuízo na aprendizagem e memória induzido pela exposição
subcrônica ao BFA em camundongos machos e fêmeas durante o período pós natal, bem como o envolvimento
do sistema glutamatérgico nesses efeitos. Para a realização deste modelo experimental, foram utilizados
camundongos Swiss machos e fêmeas. A exposição ao BFA (5 mg/kg) foi realizada durante o período do 21º até
60º dia pós-natal, via intragástrica, uma vez ao dia. Posteriormente, durante a última semana do protocolo
experimental, do 61º até 67º dia pós-natal, foi realizada a administração de (PhSe)2 (1 mg/kg), via intragástrica,
uma vez ao dia. Após, os animais foram submetidos aos testes comportamentais para avaliação dos diferentes
tipos de memória como, o labirinto aquático de Morris, o teste do reconhecimento do objeto e a esquiva passiva.
Além disso, foram removidas estruturas cerebrais (córtex e hipocampo) para a realização de ensaios ex vivo,
captação de glutamato e níveis das subunidades (2A e 2B) do receptor NMDA. Os resultados obtidos
demonstraram que a exposição ao BFA induziu prejuízo na memória de reconhecimento em ambos os sexos.
Enquanto, que prejudicou a memória espacial em fêmeas e a memória aversiva na esquiva passiva somente em
machos. Além disso, os animais expostos ao BFA apresentaram um decréscimo na captação de glutamato e
diminuição nos níveis das subunidades do receptor de NMDA nas regiões hipocampal e cortical. Os efeitos do
tratamento com o (PhSe)2 em reverter as alterações nos diferentes tipos de memória causadas pela exposição ao
BFA, além de restaurar a captação de glutamato e os níveis das subunidades do receptor de NMDA em
hipocampo e córtex de camundongos foram independentes do sexo. Em conclusão, os dados deste estudo
mostram que uma exposição subcrônica ao BFA durante o período de desenvolvimento cerebral induziu danos
na formação da memória e aprendizagem de camundongos de maneira sexo-específica e tais efeitos podem ser
relacionados com as alterações na homeostase glutamatérgica. No entanto, o (PhSe)2 reverteu,
independentemente do sexo, todas as alterações comportamentais e moleculares, demonstrando ser um potencial
candidato ao tratamento de danos na memória causados pela exposição ao BFA em camundongos.
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