Composição fitoquímica, avaliação do perfil toxicológico e atividade protetora frente a intoxicação por mercúrio das folhas de Dolichandra unguis-cati L.
Resumo
Dolichandra unguis-cati L., popularmente conhecida como unha de gato, é uma planta nativa da flora brasileira, pertencente à família Bignoniaceae e muito utilizada para fins terapêuticos e ornamentais. Dentre as principais aplicações na medicina popular, destacam-se as atividades anti-inflamatória, anti-tumoral, anti-malárica e febrífuga. No entanto, estudos a respeito das propriedades biológicas e da segurança na utilização desta espécie vegetal ainda são escassos na literatura. Assim, o objetivo deste trabalho foi investigar a composição fitoquímica, o perfil toxicológico e a atividade protetora do extrato hidroetanólico das folhas de Dolichandra unguis-cati (CELD) frente à intoxicação mercurial de ratos Wistar. A composição fitoquímica foi estabelecida por métodos espectrofotométricos e UHPLC/MS. A análise toxicológica compreendeu inicialmente os estudos in vitro de citotoxicidade (viabilidade celular), genotoxicidade (DNA cometa) e mutagenicidade (micronúcleos). Em seguida, as toxicidades ex vivo, aguda (OECD 423) e subaguda (OECD 407), complementadas pelo teste de letalidade in vitro por Artemia salina. A ação protetora do extrato, frente a intoxicação de ratos por cloreto de mercúrio (HgCl2), foi analisada através de parâmetros bioquímicos, hematológicos e pela determinação da capacidade antioxidante de CELD, por DPPH e β-caroteno. Como resultado, foram identificados e quantificados 12 constituintes químicos do extrato, os quais podem estar relacionados com a potencial atividade antioxidante verificada nos testes por DPPH (IC50 29.18 μg/mL) e β-caroteno (39% de inibição da oxidação). Nas concentrações de 10 e 100 μg/mL, CELD foi capaz de diminuir a viabilidade celular de leucócitos humanos, de maneira dose-dependente, sugerindo uma possível ação anti-tumoral. Além disso, nenhuma das concentrações testadas (1, 10 e 100 μg/mL) resultou em genotoxicidade e mutagenicidade. No estudo de toxicidade aguda, observamos que o tratamento com CELD 2000 mg/kg não causou mortalidade nem mudanças no peso corporal e no comportamento dos ratos, classificando a espécie na categoria 5 da OECD 423, com DL50 estimada entre 2000-5000 mg/kg, dados complementados pela DL50 de 3539.54 μg/mL obtida no teste com Artemia salina. A administração subaguda de CELD, nas doses de 100, 200 e 400 mg/kg por 28 dias, também não ocasionou morte de animais, alterações comportamentais e no peso corporal. Em ambos os estudos ex vivo foi observada a redução nas dosagens de AST e ALT, indicando um possível efeito hepatoprotetor. O tratamento subagudo mostrou-se ainda eficiente na redução do colesterol total em todas as concentrações testadas, sugerindo uma potencial aplicabilidade de CELD no tratamento de dislipidemias. Por fim, CELD 400 mg/kg atenuou os efeitos tóxicos resultantes da intoxicação por HgCl2, através da restauração do balanço oxidativo, diminuição nas dosagens de AST, ALT, BUN e CRE, aumento nos níveis de WBC e reversão da inversão entre linfócitos e neutrófilos. Desta maneira, CELD demonstrou apresentar baixa toxicidade e potenciais atividades biológicas que corroboram para o seu uso como planta medicinal.
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