Estabilização cervical em indivíduos com apneia obstrutiva do sono: ensaio clínico controlado randomizado
Resumo
O objetivo desse estudo foi avaliar a qualidade do sono, a força dos músculos flexores e extensores cervicais, a postura craniocervical e a sensibilidade dolorosa à pressão, além de investigar a presença de disfunção craniocervical (DCC) e a disfunção temporomandibular (DTM) em indivíduos com e sem apneia obstrutiva do sono (AOS). O estudo ainda se propôs a verificar os efeitos da estabilização cervical em indivíduos com AOS sobre estas variáveis. Foram realizados um estudo observacional (caso-controle) e um intervencional (ensaio clínico). Foram convidados a participar homens e mulheres entre 20 e 60 anos de idade, com diagnóstico de AOS, confirmado pela polissonografia. A amostra do estudo observacional foi de 51 sujeitos, 26 no grupo AOS (GAOS) e 25 no grupo sem AOS (GsAOS). No estudo intervencional, a amostra foi de 22 pacientes com AOS, 11 no grupo tratamento (GT) e 11 no grupo controle (GC). Na avaliação inicial foi realizada uma anamnese e os participantes responderam a Escala de Sonolência de Epworth (ESE), o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) e o questionário STOP-Bang, que identifica o risco de AOS. Também, avaliou-se a força muscular pela dinamometria manual, a postura craniocervical pela biofotogrametria (SAPo v 0.68®), a sensibilidade dolorosa pela algometria, a DCC pelo Índice de Disfunção Craniocervical (IDCC) e a presença e gravidade da DTM pelos instrumentos Critérios de Diagnóstico em Pesquisa para Disfunções Temporomandibulares e Índice Temporomandibular. No estudo intervencional, após a primeira avaliação, o GT foi submetido ao tratamento de estabilização cervical, com uso do biofeedback por pressão (Stabilizer; Chattanooga, USA), com dois atendimentos semanais e, após seis semanas, foram reavaliados pelos mesmos questionários e instrumentos da avaliação inicial. O GC foi reavaliado após as seis semanas, quando foi submetido ao mesmo tratamento. Os principais resultados encontrados no estudo observacional foram os menores valores de amplitude de movimento de flexão cervical (p<0,01) e do limiar de dor da região mandibular posterior (p<0,05) no GAOS, quando comparados ao GsAOS. A qualidade do sono apresentou correlação moderada (r>0,30) e significativa (p<0,05) com a gravidade da DTM e com o limiar de sensibilidade dolorosa à pressão dos músculos temporal (região média e posterior) e trapézio superior. O estudo intervencional mostrou que a qualidade do sono, a força dos músculos flexores e extensores cervicais, a postura craniocervical, a sensibilidade dolorosa e a DCC não apresentaram diferença entre os grupos e entre as avaliações pré e pós intervenção (p>0,05). Conclui-se que os indivíduos com AOS não apresentaram diferença na força muscular, na postura craniocervical e na qualidade do sono, em relação ao GsAOS. A AOS repercutiu na disfunção e mobilidade cervical e na sensibilidade dolorosa craniocervical. Observou-se que, quanto pior a qualidade do sono, maior a gravidade da DTM e maior a sensibilidade dolorosa na região craniocervical. O treinamento de força dos músculos flexores profundos cervicais não modificou as variáveis relacionadas com a qualidade do sono, a força muscular, a postura craniocervical, a sensibilidade dolorosa à pressão e a DCC, o que se atribui às boas condições destas antes do tratamento e ao grau moderado de AOS.
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