Estudo alelopático e fitoquímico de Eragrostis lugens Nees. (POACEAE)
Resumo
A interação entre organismos mediada pela liberação de compostos químicos no ambiente é
denominada alelopatia. Este conceito descreve a influência de um organismo sobre o outro, podendo este
ser prejudicial ou benéfico, e sugere que este efeito é devido à liberação de aleloquímicos. Muitas culturas
comerciais sofrem a interferência de diversos fatores durante o ciclo biológico, com impacto negativo na
produtividade, sendo o principal deles a presença de plantas daninhas , conhecidas por seu potencial
alelopático. No Rio Grande do Sul, nos últimos anos, espécies invasoras gramíneas ou poáceas têm sido
encontradas nos quadros onde se cultiva o arroz irrigado, causando prejuízos no crescimento,
desenvolvimento e produtividade dessa cultura. Entre elas, destacam-se as espécies do gênero Eragrostis,
nas quais se inclui Eragrostis lugens. Extratos aquosos e hidroetanólicos de partes aéreas de E. lugens
provenientes de duas coletas (primavera e verão) foram preparados nas concentrações 4,0, 8,0 e 16 % (p/v)
com o objetivo de avaliar o potencial alelopático, a germinação e crescimento de Oryza sativa (arroz). Para
os bioensaios de germinação e crescimento de Lactuca sativa (alface), foram utilizados apenas os extratos
do verão nas mesmas concentrações. Foram realizados bioensaios de germinação e crescimento, montados
em placas de Petri com duas camadas de papel germitest e a cada 24 h após a inoculação dos diásporos, foi
verificado o número de sementes germinadas e então obtidas a percentagem de germinação (%G) e o índice
de velocidade de germinação (IVG). Nas mesmas condições de germinação do estudo anterior, para
avaliação do crescimento inicial, os diásporos de arroz e alface foram colocados previamente em água
destilada para a germinação das sementes e quando a radícula estava com 1,0 mm, foram transferidos para as
placas contendo os extratos. As culturas foram mantidas em câmara de crescimento com fotoperíodo de 16
horas e temperatura de 25 ºC ± 1 por sete dias. Após decorridos estes, o comprimento (cm) da radícula e
da parte aérea foi mensurado, para as plântulas de arroz e de alface. Para avaliar efeitos residuais dos
tratamentos no arroz, após a primeira avaliação, as plântulas foram transferidas para bandejas plásticas
contendo mistura de substrato comercial/vermiculita, e mantidas por 15 dias em câmara de crescimento,
para aclimatação, sendo regadas diariamente com 100 mL de água. Ao final destes , dados de comprimento
da parte aérea (cm) e número de folhas foram coletados e as bandejas foram transferidas para casa de
vegetação, onde receberam lâmina d’água de 2,0 cm por um período de 15 dias. Ao final deste período,
foram avaliados os parâmetros de comprimento da parte aérea (cm), número de folhas, número de perfilhos,
comprimento radicular (cm), área foliar e massa seca de partes aéreas e radiculares (g). O conteúdo de
polifenóis totais e flavonoides dos extratos foi obtido por espectrofotometria. Para polifenois, as
absorbâncias foram lidas no comprimento de onda de 730 nm, utilizando uma curva padrão desenvolvida
para ácido gálico e o resultado expresso em miligramas equivalentes de ácido gálico por grama de amostra.
Para flavonoides totais as absorbâncias foram lidas em 420 nm, e os teores destes foram calculados
utilizando a curva de quercetina. Os resultados foram expressos em miligrama de quercetina por grama de
extrato. Os extratos aquosos e hidroetanólicos de partes aéreas de E. lugens provenientes das duas coletas
apresentaram potencial alelopático, tendo efeito negativo na germinação das sementes e nos parâmetros de
crescimento vegetativo do arroz. No que diz respeito à alface, os extratos do verão mostraram efeitos
negativos, tanto na germinação quanto no crescimento, principalmente radicular, causando necrose e
deformidades nas raízes. As partes aéreas de E. lugens apresentam metabólitos com este potencial
alelopático em seus tecidos, possivelmente responsáveis pelos efeitos negativos nas variáveis estudadas,
com maior ênfase para as coletas efetuadas na primavera.
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