Desbalanço superóxido-peróxido de hidrogênio versus seleno-L-metionina e castanha-do-Brasil: regulação diferencial in vitro de (seleno)enzimas
Resumo
As reações enzimáticas acopladas entre as enzimas superóxido dismutase dependente de manganês (MnSOD/SOD2) e a selenoenzima glutationa peroxidase-1 (GPx-1) são essenciais para o equilíbrio redox mitocondrial em células aeróbias. A SOD2 dismuta o superóxido (O2 ), oriundo da respiração celular, à peróxido de hidrogênio (H2O2) que é reduzido à água e oxigênio molecular pela GPx-1. O2 e H2O2 são espécies reativas de oxigênio (EROs), em baixas concentrações, são sinalizadores endógenos essenciais para a manutenção da homeostasia do organismo. No entanto, no polimorfismo de núcleotídeo único (SNP) do gene codificador da SOD2 (Val16Ala-SOD2), a enzima SOD2 é 30-40% mais eficiente no genótipo AA em relação ao VV selvagem, o que resulta em desbalanço superóxido (S)-peróxido de hidrogênio (PH) associado ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. O genótipo o VV tem sido associado às doenças cardiometabólicas e ao câncer de mama metastático e o genótipo AA tem sido relacionado ao aumento do risco de câncer de mama, próstata e colorretal, sugerindo que o excesso de H2O2 produzido suplanta a capacidade antioxidante da GPx-1. Adicionalmente, estudo prévio mostrou que o risco de câncer de mama diminuiu expressivamente em mulheres portadoras do genótipo AA que relataram dieta rica em frutas e vegetais. Contudo, o potencial efeito benéfico da castanha-do-brasil, rica em SeMet e fitoquímicos antioxidantes, na regulação do metabolismo oxidativo ainda não havia sido investigado. Para testar esta hipótese, objetivamos realizar um trabalho de revisão na literatura sobre a castanha-do-brasil e, em paralelo, avaliar a influência do desbalanço S-PH, genético e induzido quimicamente, no efeito in vitro da SeMet, purificada e a contida no extrato aquoso da castanha-do-brasil (EACB), via análise da modulação das enzimas antioxidantes. Métodos: Protocolo 1, células mononucleares do sangue periférico (CMSP) foram genotipadas para o polimorfismo Val16Ala-SOD2 e tratadas com SeMet purificada por 24 h em meio de cultura RPMI. No segundo protocolo, fibroblastos HFF-1 foram quimicamente S-PH desbalanceados com a porfirina MnTBAP (AA-SOD2-like) ou Paraquat (VV-SOD2-like) e tratados com EACB por 24 h em meio DMEM 15%. Foram avaliados crescimento celular e produção de EROs usando curvas de concentração-efeito em CMSP (SeMet (0; 1; 3; 10; 30; 100; 300 e 1000 nM)) e em fibroblastos HFF-1 (MnTBAP e Paraquat (0, 0,01; 0,03; 0,1; 0,3; 0,9 μM), e Se no EACB (0; 1,25; 2,5; 25; 50; 75; 100; 125 ng Se/ mL)). A concentração efetiva foi utilizada para avaliar os parâmetros do metabolismo oxidativo e a expressão gênica das enzimas antioxidantes CuZnSOD (SOD1), SOD2, GPx-1, tioredoxina redutase (TrxR-1) e catalase (CAT). A avaliação da atividade das enzimas antioxidantes, 8-hidroxi-2-deoxiguanosina (8-OHdG) e apoptose foi realizada somente no Protocolo 1. As concentrações efetivas de SeMet, MnTBAP e/ou Paraquat e Se no EACB foram 1 nM; 0,9 μM e 75 ng Se/ mL, respectivamente. A regulação da expressão gênica foi diferencial entre os protocolos 1 e 2, mas o estresse oxidativo diminuiu em ambos. No Protocolo 1, relativo ao controle negativo, apoptose, 8-OHdG e a expressão da CAT diminuíram em todos os genótipos, mas a atividade CAT diminuiu somente no AA. Nas AA-CMSP, expressão e atividade SOD aumentaram; a expressão da GPx-1 não alterou e da TrxR-1 baixou expressivamente, mas a atividade de ambas foi modulada positivamente. Nas VV-CMSP, a expressão de todas as enzimas diminuiu, exceto TrxR-1, com modulação positiva da atividade da GPx-1, TrxR-1 e CAT, mas negativa para SOD. No Protocolo 2, nos fibroblastos AA e VV-SOD2-like tratados com EACB, a expressão gênica da CAT seguiu o padrão SOD2 em AA e VV-SOD2-like. Porém, a expressão da SOD1 e GPx-1 diminuíram enquanto que TrxR-1 e CAT aumentaram em AA-SOD2-like. Em VV-SOD2-like, a expressão da SOD1, GPx-1 e CAT aumentaram e TrxR-1 não alterou. A relação GPx-1 e TrxR-1 ocorreu de maneira compensatória com efeito nutrigenético nas CMSP tratadas com SeMet purificada, mas de maneira sinérgica com um maior efeito nutrigenômico nos fibroblastos S-PH desbalanceados tratados com SeMet associada à matriz química do EACB.
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