O papel do polimorfismo Ala16Val da Mn-SOD no acidente vascular encefálico crônico: um estudo clínico
Resumo
Considerada uma das doenças neurológicas mais frequentes, o acidente vascular encefálico (AVE) apresenta uma alta taxa de morbidade e mortalidade, sendo que o AVE isquêmico corresponde a 85% dos casos. Diversos fatores estão envolvidos na etiologia da doença, como alterações na permeabilidade vascular, estresse oxidativo, inflamação, apoptose e dano ao DNA. Entre outras consequências estão os déficits cognitivos e motores, dependendo da magnitude e tempo da lesão. O polimorfismo de nucleotídeo único MnSOD Ala16Val (SNP) é uma mutação genética da enzima antioxidante superóxido dismutase e está associado a fatores de risco de doenças metabólicas e vasculares, como o AVE. O fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF) é uma neurotrofina que, entre várias funções, está associada a regeneração tecidual após lesões vasculares cerebrais. A acetilcolina (ACh) é um neurotransmissor excitatório relacionado com processos mnemônicos, aprendizado e funções motoras. Desta forma, foi objetivo deste estudo investigar a relação entre o polimorfismo da Ala16Val MnSOD com os marcadores oxidativos, inflamatórios, apoptóticos e de dano ao DNA, bem como, com os níveis de BDNF, ACh e atividade da AChE, memória e a capacidade funcional de pacientes após-AVE crônico isquêmico (AVEi) crônico. Quarenta e oito pacientes com AVE e 50 controles saudáveis foram submetidos a questionários, exames laboratoriais e testes clínicos. Os resultados mostraram uma maior proporção do genótipo VV nos pacientes após-AVE em comparação com indivíduos saudáveis. Os pacientes com genótipo VV também apresentaram níveis mais elevados de 2′-7′ diacetato de diclorofluoresceina (DCFH-DA), nitrito/nitrato (NOX), fator de necrose tumoral-α (TNF-α), acetilcolinesterase (AChE), caspase 8 (CASP 8), caspase 3 (CASP 3) e PicoGreen (PG), bem como, níveis diminuídos de BDNF e ACh. Similarmente, nos testes cognitivos (memória de trabalho e memória total) e nos testes motores (Escala de Equilíbrio de Berg e o teste fitness sênior - STF), os pacientes com genótipo VV tiveram piores resultados quando comparados com os outros genótipos (grupo AVE e controles). Desta forma, os resultados sugerem uma relação do polimorfismo da MnSOD Ala16Val com as rotas oxidativa/nitrosativa e inflamatória, culminado na ativação da cascata apoptótica e dano a DNA, especialmente para aqueles pacientes com genótipo VV. Além disso, os pacientes (VV) mostraram os piores resultados nos testes cognitivos e motores, assim como, níveis reduzidos de BDNF, ACh e atividade da AChE. Assim, é plausível propor que pacientes com AVEi com genótipo VV apresentam um pior desempenho em relaçõ à função cognitiva e motora, assim como, aumento nos parâmetros oxidativos e inflamatórios. Nossos achados também relacionaram as alterações clínicas aos níveis reduzidos de BDNF e ACh, sugerindo que o conhecimento da existência do polimorfismo é importante para avaliar os mecanismos moleculares associados à lesão neurovascular e oferecer um tratamento individualizado para esses pacientes.
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