Brincando e dançando e sentindo a canção: entrelaçamentos entre dançar, brincar e se-movimentar
Resumo
O presente trabalho parte de minha experiência como professora de Educação Física, atuando desde 2014 com os anos finais do ensino fundamental em uma escola estadual de Santa Maria – RS, onde tenho percebido que a espontaneidade, a criatividade e a imaginação são traços já desbotados nas práticas de grande parte das crianças, que já adentram caminhos da adolescência. Trata-se de uma pesquisa teórica que tem como pano de fundo minha experiência docente, a qual envolve diários de aulas, trabalhos e reflexões construídas com as turmas, bem como minhas experiências com o universo das danças. Inicio a caminhada refletindo acerca dos vazios que percorrem a escola e assombram a educação física escolar. O envolvimento em brincadeiras, a sensibilidade para deixar fluir o movimento e a imaginação, a permissão para ser quem realmente somos, vão sendo, aos poucos, substituídas pela pressa, pela busca da funcionalidade, por modelos que ‘facilitam’ nossa vida, por tecnologias que nos anestesiam e consomem nosso tempo de criar, brincar e se-movimentar. Onde se escondeu aquela espontaneidade que movimentava o brincar das crianças? Será mesmo que ao deixar a infância também deixamos de brincar? Não seria a dança uma maneira de brincar, quando a infância se distancia? Esses e outros questionamentos impulsionaram o desenrolar da pesquisa, que apresenta como pergunta central: como a dança pode ser considerada um caminho de possíveis (re)encontros com o brincar? Partindo dessa questão, a pesquisa teve como objetivo investigar possíveis entrelaçamentos entre a dança e o brincar e se-movimentar. Diante do contexto apresentado, busquei compreender as (des)configurações de tempos e espaços do brincar em meio aos contextos e transformações que perpassam a adolescência, bem como a presença da dança entre adolescentes. Em seguida, voltei a atenção para os brincantes e seus brincares dançantes nas manifestações de cultura popular, a fim de compreender a dança em suas aproximações com o brincar e se-movimentar, como possível espaço e tempo de entregas na adolescência. Por fim, busquei tecer reflexões sobre a educação física e a dança na escola. Considero que essa trajetória da pesquisa não nos leva a um resultado final, não traz receitas de aulas de dança na escola, nem mesmo consegue definir a melhor estratégia para que a dança seja um caminho possível para os reencontros com o brincar. Mas ela nos conduz como uma roda de danças circulares, passo a passo, convidando a refletir sobre os temas em questão. A mandala desenhada ao final da dança abre outros portais, nos convida a outras reflexões. Mas também mostra que dançar e brincar se entrelaçam desde suas raízes mais profundas, são verbos que movimentam sensibilidades, e esses entrelaçamentos podem ser percebidos como um círculo, sem um começo e sem um fim, onde a dança se faz um caminho possível para (re)encontros com o brincar, ao mesmo tempo em que o brincar se faz impulso criativo para que a dança aconteça. Desse modo, é urgente a presença das danças nas escolas, em especial as danças populares. É urgente uma educação (física) mais brincante.
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