Influência da exposição ao modafinil sobre a preferência por anfetamina em diferentes períodos do desenvolvimento
Resumo
A adição, a qual é caracterizada pelo desejo e busca pela droga apesar das consequências
negativas, é um grave problema de saúde pública causando prejuízos para o indivíduo, sua famíllia e
para a sociedade. Dessa forma, o desenvolvimento de estratégias para o entendimento dos
mecanismos neurobiológicos relacionados a esse transtorno são de extrema relevância. Estudos
revelam que experiências adversas durante a adolescência, podem causar prejuízos aos circuitos
neurais do indivíduo, facilitando o desenvolvimento de transtornos neuropsiquiátricos, que podem se
manifestar ao longo da vida e até na idade adulta. Em vista disso, o uso inadequado de fármacos
psicoestimulantes de uso lícito com prescrição médica durante a adolescência têm se tornado um
assunto preocupante na sociedade atual. O presente estudo teve por objetivo avaliar a influência da
administração de modafinil (MOD), um psicoestimulante de prescrição, durante a adolescência sobre
a preferência de lugar condicionada (PLC) e sobre a recaída por anfetamina (ANF) em ratos. Tal
estudo baseia-se na hipótese de que a exposição prolongada ao MOD durante a adolescência
poderia modificar a expressão de biomarcadores relacionados à plasticidade sináptica (pro-BDNF,
BDNF, Trk-B, GDNF), assim como, alvos da via mesolímbica dopaminérgica (D1R, D2R, DAT, TH,
VMAT-2), afetando o status oxidativo cerebral em áreas mesocorticolímbicas, relacionadas com a
recompensa e adição, resultando em alterações comportamentais. A partir de um estudo piloto
(protocolo experimental I), Destinado a avaliar a influência da exposição de ratos adolescentes ao
MOD (64mg/kg, per oral, p.o.) durante 14 dias, observou-se que o MOD melhorou a memória recente
sem alterar parâmetros locomotores ou de ansiedade dos animais. Em relação ao status oxidativo, o
MOD aumentou a atividade da catalase, e diminuiu marcadores de dano oxidativo no córtex préfrontal,
estriado e área tegmental ventral (ATV), exceto no hipocampo, onde o MOD não exerceu
influência significativa sobre os parâmetros avaliados. No protocolo experimental II, animais
adolescentes foram expostos ao MOD e, posteriormente, condicionados com ANF no paradigma de
PLC na idade adulta, quando observou-se que o MOD reduziu a preferência pela droga, prevenindo
alterações locomotoras, sinais de ansiedade e prejuízos de memória recente no período de
abstinência da droga. O MOD também mostrou atividade antioxidante e efeitos benéficos sobre os
biomarcadores relacionados à memória (pro-BDNF, BDNF, Trk-B) agindo como um modulador do
sistema dopaminérgico hipocampal (DAT, D1R e D2R). O protocolo experimental III foi realizado com
o objetivo de verificar se as mesmas influências benéficas do MOD seriam observadas quando os
animais fossem expostos à ANF ainda na adolescência. Novamente, a exposição ao MOD reduziu a
PLC por ANF, reduzindo comportamentos de ansiedade durante a abstinência da droga. Alterações
do status oxidativo e moleculares no sistema dopaminérgico foram observadas na ATV e estriado
desses animais, quando o MOD exerceu uma suprarregulação de alvos estriatais dopaminérgicos
(TH, DAT, D1R e D2R) após a exposição à ANF, possivelmente prevenindo a redução nos níveis de
dopamina durante a retirada da droga, o que pode ter sido refletido sobre os comportamentos
apresentados. No protocolo experimental IV, a exposição ao MOD ocorreu após a PLC por ANF já
estar estabelecida, assim o MOD foi proposto como um tratamento à recaída. Tal abordagem mostrou
que o MOD preveniu a recaída pela ANF agindo beneficamente sobre a memória. Em nível
molecular, o MOD causou alterações benéficas tanto no sistema dopaminérgico como em
neurotrofinas relacionadas a manutenção dessa via, no estriado ventral, após a exposição à ANF.
Como conclusão desses estudos, é possível inferir que o MOD exerceu efeitos comportamentais
benéficos frente à preferência e à recaída por ANF quando administrado durante a adolescência, os
quais ocorreram juntamente a respostas positivas sobre o status oxidativo e molecular em áreas
cerebrais relacionadas à adição. Até o presente momento é possível propor que o MOD poderia estar
agindo como um modulador do sistema dopaminérgico frente ao dano causado pela ANF em ratos.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: