Desenvolvimento cognitivo e linguístico de crianças em sofrimento psíquico nos dois primeiros anos de vida
Resumo
Considerando o desenvolvimento infantil como fundado nos primeiros anos de vida nas
condições biológicas do bebê e na emergência de seu psiquismo, tanto em sua dimensão
estrutural psíquica, no sentido freudo-lacaneano, quanto em termos de nascimento da
inteligência (CORIAT; JERUSALINSKY, 1996), esta pesquisa tematiza a relação entre
sofrimento psíquico e desenvolvimento cognitivo e linguístico. Nessa interpretação, foi
elaborada uma pesquisa quali-quantitativa, na qual os objetivos foram analisar a constituição e
o sofrimento psíquicos de um grupo de bebês de zero a 24 meses e as possíveis relações desse
sofrimento com o desenvolvimento cognitivo e linguístico desses bebês avaliado pelo Bayley
III (BAYLEY, 2006) aos 18 e 24 meses. Buscou também analisar a concordância entre o risco
psíquico nos primeiros 18 meses, detectado pelos Indicadores Clínicos de Referência/Risco ao
Desenvolvimento Infantil (IRDI), e aos 18 e 24 meses detectado por meio do Modified
Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT). Esses objetivos foram investigados em um
primeiro estudo de coorte que abrangeu a aplicação desses roteiros e instrumentos em 20
bebês e seus familiares em unidade de saúde da cidade de Santa Maria. Os familiares também
responderam a um questionário sobre aspectos sociodemográficos, psicossociais e obstétricos
Como resultado encontrou-se correlação estatisticamente significante entre alteração de
linguagem no Bayley III e M-CHAT aos 18 meses, observou-se que crianças com risco
psíquico nos primeiros dezoito meses, avaliadas pelo IRDI, apresentaram desempenho
inferior no teste Bayley III, tanto no aspecto cognitivo quanto linguístico embora não
houvesse correlação estatisticamente significante, e que a presença de risco no IRDI não se fez acompanhar sempre de presença de risco no M-CHAT, tendo em vista a especificidade
deste teste para autismo. No segundo estudo, buscou-se aprofundar a discussão da relação
entre os resultados observados no risco psíquico e os resultados observados na avaliação
cognitiva e de linguagem no estudo de dois casos que incluiu a visualização e análise de
filmagens da interação de mães e bebês por duas psicólogas. As juízas avaliaram o brincar em
sua dimensão cognitiva, linguística e afetiva a partir de roteiro elaborado para a pesquisa e
esses resultados foram confrontados com o histórico de cada bebê coletado na pesquisa de
coorte, bem como resultados obtidos nos roteiros e instrumentos. Observou-se no caso de
risco para autismo que a cognição e linguagem estiveram mais afetadas do que no caso de
risco não autista. Além disso, a ausência de criatividade e diálogo durante o brincar permitiu
discutir a relação entre atraso no desenvolvimento e sofrimento psíquico.
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