A influência do espaço social na sobrecarga de mulheres cuidadoras de crianças com cuidados contínuos e complexos
Resumo
O cuidado às crianças com cuidados contínuos e complexos exige mudanças significativas na
dinâmica das famílias. Esta condição acaba gerando uma sobrecarga sobre o principal
cuidador, que geralmente se concentra na figura da mulher. Este estudo teve como objetivo
geral: analisar a influência do espaço social na sobrecarga de mulheres cuidadoras de crianças
com cuidados contínuos e complexos. Objetivos específicos: caracterizar a sobrecarga, o
perfil de saúde e o perfil sociodemográfico de mulheres cuidadoras de crianças com cuidados
contínuos e complexos; caracterizar o perfil clínico de crianças com cuidados contínuos e
complexos; apreender e interpretar a influência do espaço social na sobrecarga de mulheres
cuidadoras de crianças com cuidados contínuos e complexos. O referencial teórico filosófico,
condutor do estudo, consistiu nos referenciais de Bourdieu. Pesquisa de método misto, do tipo
explanatório sequencial com mulheres cuidadoras de crianças com cuidados contínuos e
complexos. O cenário do estudo – na fase quantitativa – consistiu nas unidades pediátricas do
Hospital Universitário de Santa Maria, na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de
Santa Maria/RS; na fase qualitativa, o cenário consistiu em domicílios de mulheres cuidadoras
destas crianças que participaram da fase quantitativa. A coleta de dados foi realizada por meio
de uma escala, de um questionário sociodemográfico e de saúde da mulher cuidadora e de um
perfil clínico da criança na fase quantitativa. Na fase qualitativa, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas no período de agosto de 2017 a fevereiro de 2018. A análise dos dados
quantitativos foi realizada por meio do programa “R”, utilizando-se a estatística descritiva e
analítica. Os dados qualitativos foram analisados a partir dos pressupostos da análise de
discurso Pechetiana. Os aspectos éticos foram respeitados, de acordo com a Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Os resultados do estudo indicaram que 50,6%
(N=42) das mulheres cuidadoras de crianças com cuidados contínuos e complexos
apresentaram uma sobrecarga de média a moderada. Evidenciou-se diferença significativa
entre os escores da sobrecarga das mulheres que cuidam de crianças com demandas de
desenvolvimento. Ainda, que a sobrecarga de mulheres cuidadoras destas crianças é
influenciada fortemente pelo Espaço Social, de maneira polarizada, pelos capitais social,
cultural e econômico. No referido espaço, a mulher, a partir de seu habitus, luta pelos seus
direitos e de sua criança conforme a oferta ou não desses capitais. Essas mulheres são vítimas
da violência simbólica, que se apresenta de diversas formas no Espaço Social como: a
dominação masculina, o mito do amor materno, o preconceito e o estigma que permeiam o
cotidiano da criança com cuidados contínuos e complexos. Recomenda-se que os
profissionais da saúde, de forma multiprofissional, elaborem planos terapêuticos para essas
mulheres, considerando que elas estão inseridas num Espaço Social que influencia todas as
suas ações e interfere na sua saúde e na da criança com cuidados contínuos e complexos.
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