Para que os olhos se demorem: os sentidos da visão na produção em dança de um corpo pandêmico
Resumo
A presente pesquisa trata de um Trabalho de Conclusão de Curso em Dança
Bacharelado e investiga os usos da visão na produção em dança, durante a pandemia
do Covid-19. A intenção foi produzir um videodança que parte da questão: como a
visão organiza meu movimento durante a quarentena? Metodologicamente, trabalha
a partir da técnica Feldenkrais e do Tuning Scores, para explorar a relação entre os
sentidos, a atenção e o movimento. Com a utilização da câmera em enquadramentos
de plano detalhe, plano fechado e meio primeiro plano, vislumbramos uma relação
com as (in)visibilidades da respiração e a imagética da intimidade na vivência do
isolamento e do espaço doméstico. O corpo pandêmico e sua elaboração entre arte e
ciência são considerados a partir do diálogo com as reflexões de Jeremy Stolow. A
visão é estudada a partir das contribuições de Tim Ingold, Merleau Ponty e Gibson. A
organização de uma coreopolícia e de uma coreopolítica durante a pandemia são
refletidas a partir de Lepecki. Finalmente, o diálogo sobre o deslocamento promovido
pela experiência do corpo pandêmico, como coabitação microbiológica,
distanciamento social e tecnologias de vídeo reconfiguram a experiência da intimidade
e da coletividade. Sua educação da atenção e da visão levam a considerar a
especificidade na construção de relações singulares com o espaço da cidade, da casa
e da alteridade, no estabelecimento de um novo comum, através de novos fluxos e
fronteiras que recolocam o cuidado em sua dupla dimensão de privilégio e prioridade
nos modos de governo dos corpos.