Subjetividades trágicas na ficção de Henry James: Daisy Miller, The Portrait of a Lady e The Wings of the Dove
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Data
2021-11-30Primeiro coorientador
Ramicelli, Maria Eulália
Primeiro membro da banca
Mathias, Dionei
Segundo membro da banca
Gualda, Linda Catarina
Terceiro membro da banca
Costa, Natasha Vicente da Silveira
Quarto membro da banca
Oliveira, Raquel Trentin
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Henry James narrou a sociedade e a cultura de seu tempo com grande maestria. Observador atento das tensões entre códigos sociais distintos que começavam a coexistir cada vez mais acentuadamente no século XIX e XX, James dedicou parte de sua escrita ficcional e não ficcional a tais questões. Posteriormente, os contrastes entre as culturas encontrados em suas obras foram caracterizados por críticos literários como a “temática internacional”. Nas narrativas ficcionais que incorporam o tema, o autor usualmente figura personagens oriundas da Europa e do continente norte-americano, especialmente de seu país natal, os Estados Unidos e, desse modo, elabora um signi-ficativo registro das características sociais, morais e afetivas de sua época. Por desconhecimento quanto aos costumes em vigor no continente europeu, mas sobretudo por fazerem leituras equivocadas de pessoas e situa-ções, as personagens estadunidenses representadas nessas narrativas caem em ruína e acabam por desperdiçar suas vidas em contextos em que são estrangeiras. A “temática internacional”, assim, configura-se também como o pano de fundo para a construção da dimensão trágica na obra jamesiana. Em vista dessas questões, esta tese apresenta uma compreensão sobre como a focalização integra a configuração do trágico em Daisy Miller, The Portrait of a Lady e The Wings of the Dove. Essas obras representam períodos distintos da escrita de Henry Ja-mes devido à técnica narrativa empregada pelo autor; há, portanto, diferenças significativas no modo com que o trágico é construído, que estão diretamente relacionadas ao tratamento dado à focalização. Nessas obras, temos como protagonistas jovens estadunidenses em incursão pelo mundo europeu, que são retiradas de cena em mo-mentos específicos, quando se distanciam de seus verdadeiros selfs e, por conseguinte, quando não há mais esca-patória, não há mais salvação possível para suas situações. Na novela Daisy Miller, a dimensão trágica é desen-volvida de modo ainda incipiente, porque, ainda que trate de uma personagem eminente, imbuída de ideais de vanguarda, a narrativa não é estruturada a partir da perspectiva da protagonista. Ainda assim, Daisy Miller apre-senta uma sugestão provocativa: nesta novela, a hybris da jovem protagonista poderia ser associada à sua valen-tia em contrariar o que a sociedade espera dela para tentar assumir quem realmente é. De Daisy Miller para The Portrait of a Lady, há uma mudança radical no tratamento da focalização, que passa a enfatizar diretamente a subjetividade da protagonista Isabel Archer, intensificando, por consequência, a dimensão trágica. Nesta narrati-va, a psique é o grande motor do trágico e o processo de reconhecimento é interno à protagonista, o que permite ao leitor compreender não somente motivações e reflexões íntimas, mas também o sofrimento excruciante da jovem. Já em The Wings of the Dove, a focalização privilegia a perspectiva de três focalizadores principais e o processo de configuração do trágico não é apenas mais complexo e intenso, mas também mais difícil de ser compreendido como tal. Na história de Milly Theale, há um trágico mais contemporâneo, em uma narrativa com pouca ação, na qual o processo de reconhecimento de seus equívocos e a gradual perda de desejo de viver ocor-rem de forma velada. Por fim, a solidão da protagonista reverbera na própria forma narrativa por meio de sua total exclusão como focalizadora. A estratégia narrativa de isolamento das protagonistas, elaborada por meio da não narração das suas perspectivas, é um procedimento que, claramente, interessava a Henry James. Possivel-mente, já à época do autor, estaria latente que a complexidade da subjetividade humana estaria se transfigurando em questões tão herméticas que, por vezes, sequer o discurso daria conta de abarcar. Por isso, nas narrativas em questão, opta-se pelo silêncio para dar conta de sofrimentos absurdos que, possivelmente, não caberiam em pala-vras. Percebemos, assim, inovações quanto à construção do trágico na obra de Henry James: nesse trio de narra-tivas, o autor parece estar elaborando formas novas de representar o trágico de seu tempo, uma vez que, aqui, não encontramos protagonistas sofrendo aos olhos de todos, publicamente, como vemos nas antigas tragédias e em narrativas trágicas tradicionais. O trágico jamesiano é elaborado por outras vias: em Daisy Miller, The Por-trait of a Lady e The Wings of the Dove, há, em maior ou menor grau, a exclusão das protagonistas trágicas do centro da cena, o que subverte os modos convencionais de tratamento do trágico. Henry James, assim, apresenta-nos mudanças expressivas na configuração do trágico ao torná-lo entrelaçado e potencializado pela focalização em suas obras.
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