A noção de língua na Gramática castellana (1847), de Andrés Bello: conjuntura histórica e política
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Data
2022-01-25Primeiro membro da banca
Rojas, Darío
Segundo membro da banca
Guimarães, Eduardo Roberto Junqueira
Terceiro membro da banca
Marrero, Juan Jorge Fernández
Quarto membro da banca
Pires, Vera Lúcia
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Esta tese visa compreender a noção de língua presente na Gramática de la lengua castellana,
destinada al uso de los americanos, de Andrés Bello, publicada em 1847, no Chile, na
conjuntura sócio-histórica e política da construção dos Estados nacionais latino-americanos, no
período pós-independência. Para tal, considera-se essa gramática uma produção de
conhecimento inovadora sobre a língua espanhola e seus usos, na América Latina, do século
XIX, pois ocupa um lugar diferenciado para se pensar o espanhol em funcionamento nesse
contexto. Isso implica conhecer as características dessa gramática, sua contribuição para a
constituição do espanhol como língua nacional no Chile, sua recepção e circulação na América
Latina. O estudo tem como suporte teórico-metodológico e analítico princípios da Semântica
do Acontecimento (SA, GUIMARÃES, 2002, 2018), articulados aos da História das Ideias
Linguísticas (HIL, AUROUX, 2014), e se desenvolve estabelecendo relação com a História e
a Filosofia. Com essa base, a gramática é tomada como “instrumento linguístico” (AUROUX,
2014) e como “acontecimento enunciativo” (GUIMARÃES, 2002, 2018), o que significa
considerar que ela se apresenta como um produto do conhecimento linguístico, um objeto
técnico, uma ferramenta que auxilia na sistematização, divulgação e aprendizagem da língua
espanhola no Chile e região, e que faz a diferença ao ocorrer, pois algo acontece quando ela é
publicada. A língua é estudada pela perspectiva da SA, isto é, a língua na enunciação, em um
acontecimento histórico e político, o que requer considerar a relação entre elementos estruturais,
o funcionamento e as condições de produção. Os sentidos são constituídos enunciativamente,
no funcionamento do dizer, apresentando-se como efeitos da enunciação, de modo que a língua
significa no funcionamento da enunciação. O corpus de análise é composto de 36 sequências
enunciativas constitutivas da obra. O gesto analítico se realizou em dois movimentos, sendo o
primeiro sobre a designação do nome da língua e o segundo sobre suas reescriturações, em seus
modos de funcionamento e sentidos. As análises sugerem que a enunciação da designação e das
reescriturações do nome da língua ocorre num espaço de disputa pelo dizer, constituindo dois
gestos sobre a língua por parte do gramático Bello, dois conflitos enunciativos, de natureza
política, no discurso metalinguístico: um entre a norma vigente para o espanhol na época
(instituída pela RAE) e a proposta de Bello, e o outro entre a “norma” bellista e a diversidade
do espanhol na América Latina. Essa postura anuncia o surgimento de políticas linguísticas
diferentes, que estão até hoje conflitando: policentrismo e pan-hispanismo. A tese conclui que
as disputas enunciativas evidenciadas constituem a noção de língua na Gramática (1847), a
qual pode ser compreendida como a língua nacional, a língua como instrumento de
comunicação, de aprendizagem e exercício da cidadania e a língua da emancipação.
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