Favelas cariocas no The Guardian: a cultura vivida e as representações dos impactos das Olimpíadas Rio 2016
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Data
2020-04-03Primeiro membro da banca
Knijnik, Jorge Dorfman
Segundo membro da banca
Storch, Laura Strelow
Terceiro membro da banca
Freitas, Ricardo Ferreira
Quarto membro da banca
Deus, Sandra de Fatima Batista de
Metadata
Mostrar registro completoResumo
A tese busca analisar as tensões entre as representações dos impactos das Olimpíadas Rio 2016
construídas no discurso da série “Vozes do Rio: nossa odisseia olímpica” do jornal The
Guardian e a cultura vivida nas favelas cariocas no contexto do megaevento esportivo. A
escolha do objeto empírico foi motivada pelo espaço concedido a três jornalistas comunitários
da Rocinha, do Complexo do Alemão e do Complexo da Maré em um portal de notícias de
alcance global, que soma 160 milhões de acessos mensais. A pesquisa tem como objetivos
específicos contextualizar as relações sociais, políticas e econômicas entre as Olimpíadas Rio
2016 e as favelas cariocas; investigar as mediações jornalísticas na série que contribuem para a
construção das representações dos impactos da competição; reconhecer os sentidos mobilizados
no discurso jornalístico e tensionar as representações na série com a cultura vivida nas favelas
cariocas no contexto do megaevento esportivo. A tese parte do pressuposto de que a inserção
dos jornalistas comunitários pode ter ocorrido apenas de forma superficial e limitada ao longo
do discurso jornalístico, não favorecendo, de fato, a participação ativa e autônoma desses
grupos sociais marginalizados com vistas à construção de representações mais plurais e
alternativas. O percurso teórico-metodológico é desenvolvido a partir de um protocolo analítico
próprio que tem como bases a análise cultural (WILLIAMS, 1979) e a análise de discurso
(FOUCAULT, 2012) a fim de compreender as negociações de sentidos entre diferentes esferas
culturais no interior do discurso jornalístico. Primeiramente, analisamos a cultura vivida por
meio da descrição das mediações das favelas cariocas no contexto das Olimpíadas Rio 2016 e
das mediações jornalísticas do The Guardian; em seguida, mapeamos os sentidos negociados
no discurso da série em meio a relações de poder e disputas ideológicas; por fim, em uma etapa
interpretativa, tensionamos as representações dos impactos do megaevento esportivo na série
com a cultura vivida nas favelas cariocas no período a fim de verificar as potencialidades e as
limitações da inserção de vozes comunitárias em um espaço global e hegemônico. Como
resultado da análise de sentidos, identificamos cinco formações discursivas: a) descaso; b)
militarização; c) resistência; d) banalização da violência e e) estereotipização. A pesquisa
demonstra, por um lado, que a presença das mediações das favelas cariocas, representadas pelos
jornalistas comunitários, foi um diferencial na série, já que colocaram em circulação
representações mais plurais e alternativas sobre o megaevento esportivo, aproximando o
discurso jornalístico da cultura vivida nas comunidades. No entanto, não é possível afirmar que
a participação dos jornalistas comunitários se deu de forma ativa e democrática na série, já que
coube ao The Guardian o controle integral de todo o processo de produção, restringindo a
autonomia dessas vozes marginalizadas em um espaço tutoreado e limitado. Logo, a série
envolveu uma relação assimétrica de poder em que o local foi convertido em produto para
consumo a partir das lógicas do global e do hegemônico.
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