O movimento cíclico e inquietante da escrita de Herta Müller
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Data
2021-12-20Primeiro membro da banca
Mathias, Dionei
Segundo membro da banca
Wels, Erica Schlude
Terceiro membro da banca
Calegari, Lizandro Carlos
Quarto membro da banca
Faria, Regina Lucia de
Metadata
Mostrar registro completoResumo
A escrita “concêntrica” de Herta Müller traz ao cenário literário a presença de um movimento diferenciado, no que diz respeito ao contexto das produções ficcionais contemporâneas. Suas produções, baseadas em recursos linguísticos e estéticos, arquitetados a partir de uma estrutura móvel, sobretudo, em relação às possibilidades de significação, colocam o ser humano no centro das narrativas, com temáticas de cunho universal. Assim, as obras O compromisso (2009), Fera d’alma (2013a), A raposa já era o caçador (2014) e O homem é um grande faisão no mundo (2013c), perscrutando as memórias do regime ditatorial, liderado por Nicolae Ceauşescu (1965-1989), da Romênia, incorporam às narrativas temas emergenciais no cenário contemporâneo, entre eles, a violência. Embora diferenciadas, elas relatam, cada uma a sua maneira, a intolerância de um regime tecnicamente organizado para oprimir, manipular, torturar e, em muitos casos, assassinar indivíduos que não compactuavam da mesma ideologia do Estado. Sob essa perspectiva, o fenômeno da violência tem encontrado eco e proporcionado reflexões cada vez mais aprofundadas, sobretudo, pelos seus efeitos. Nesse sentido, circundada por personagens fragmentadas e dessubjetivadas, em decorrência do regime repressivo, a narrativa traz à tona a figura de personagens deslocados e desenraizados de suas origens. A partir dessas experiências de deslocamento, geradas pela violência, a pesquisa objetiva problematizar questões relacionadas aos processos de desterritorialização, memória e identidade. Desse modo, nosso intuito é demonstrar, por intermédio do ciclo de narrativas que compõem o corpus, como esses temas são trazidos à realidade literária e incorporados às suas personagens. A esse aspecto, tornar evidente a presença de estrutura móvel que se inscreve sob as bases de um constante ir e vir das palavras e dos instantes que permeiam as narrativas. Essa constatação, evidenciada por intermédio de um recurso estilístico cíclico, a partir do uso recorrente de temas como: exílio, deslocamentos, desenraizamentos, identidade, memória e violência, que percorrem todas as narrativas que compõe o corpus, não se constrói de forma proposital, ela faz parte de uma movimentação inconsciente, desencadeada pelos constantes deslocamentos que naturalmente geram uma proposta de movimento. Sendo assim, embora norteada pelas intransigências do autoritarismo, a literatura de Müller traz uma de suas características mais marcantes: a forma como entrelaça as suas experiências e a do outro, mesmo tomada pelos traumas deixados pela repressão. É, pois, mesclando ficção e realidade que a escrita mülleriana, produzida sob os efeitos do terror e da crueldade humana, encontra na literatura a força para tentar dar conta dos horrores desse período, evitando assim a reincidência.
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