Influência da estrutura da paisagem na exposição de primatas de vida livre a agentes patogênicos no Sul do Brasil
Visualizar/ Abrir
Data
2022-12-16Primeiro membro da banca
Reck Júnior, José
Segundo membro da banca
Marques, Júlio César Bicca
Terceiro membro da banca
Jardim, Márcia Maria de Assis
Quarto membro da banca
Fortes, Vanessa Barbisan
Metadata
Mostrar registro completoResumo
O declínio dos ecossistemas florestais decorrentes da perda e fragmentação dos remanescentes de mata
apresenta-se como a grande razão que põe em risco a sobrevivência das populações de espécies silvestres que
dependem desses ambientes, gerando escassez de recursos, isolamento social e diminuição do fluxo gênico. Além
disso, as alterações na estrutura dos habitats silvestres podem proporcionar novas dinâmicas na transmissão de
microrganismos patogênicos, ampliando as oportunidades de exposição aos mais diversos agentes. Com o objetivo
de investigar diferentes patógenos aos quais os primatas de vida livre no estado do Rio Grande do Sul (RS), Brasil,
podem estar expostos, bem como avaliar as relações com a estrutura das paisagens nas quais os primatas estão
inseridos, foi realizado um inquérito sorológico para pesquisa de anticorpos contra os protozorários Leishmania
infantum, Neospora caninum, Sarcocystis spp., Toxoplasma gondii e Trypanosoma cruzi, além das bactérias
Brucella abortus e Leptospira spp. As amostras foram submetidas às provas sorológicas de Antígeno Acidificado
Tamponado (AAT), Hemaglutinação Indireta (HAI-IgM/IgG), Imunofluorescência Indireta (RIFI-IgG) e
Soroaglutinação Microscópica (SAM), de acordo com o agente pesquisado. Além disso, foram caracterizados os
remanescentes florestais onde os primatas foram amostrados em uma abordagem multiescala em raios que variam
de 200 a 1400 m através do uso de Modelos Lineares Generalizados (GLM) para investigar a relação potencial da
exposição prévia aos agentes com os elementos que compõem a estrutura da paisagem. Nesse sentido, foram
utilizadas 105 amostras de soro sanguíneo de primatas de vida livre, sendo: Alouatta caraya (63), Alouatta guariba
clamitans (39) e Sapajus nigritus cucullatus (3), obtidas entre os anos 2002 e 2016 em 48 fragmentos florestais.
Os resultados observados foram: na RIFI-IgG, 13% (14/105) das amostras foram soropositivas para N. caninum,
5% (5/105) para T. gondii e 6% (6/105) para Sarcocystis spp. Na HAI-IgM/IgG, 25% (26/105) foram soropositivas
para T. gondii e 51% (49/96) para T. cruzi. A SAM para Leptospira spp. indicou a presença de anticorpos para
pelo menos um dos 23 sorogrupos/sorovares do agente em 37% (37/101) das amostras analisadas. Os sorovares
observados com maior frequência foram: Panama (18%), Ballum (6%), Butembo (6%), Canicola (6%), Hardjo
(5%) e Tarassovi (4%). Não foram observadas amostras positivas para L. infantum e B. abortus. As métricas que
melhor explicaram a exposição a N. caninum, T. gondii e Sarcocystis spp. foram densidade de bordas e manchas,
cobertura florestal, cobertura urbana e distância euclidiana média até o fragmento mais próximo. A diminuição da
cobertura florestal e a densidade de bordas foram os fatores da paisagem que tiveram relação significativa com a
exposição a Leptospira spp. Houve relação significativa quanto a exposição ao protozoário T. cruzi para A. caraya,
porém nenhuma métrica de paisagem esteve relacionada à exposição ao agente. Deste modo, é possível inferir,
que os primatas de vida livre no RS, A. caraya, A. g. clamitans e S. n. cucullatus, foram expostos a N. caninum, T.
gondii, Sarcocystis spp., Leptospira spp. e T. cruzi nos remanescentes florestais estudados. Além disso, foi possível
identificar que alguns atributos da paisagem como redução da cobertura florestal, aumento da densidade de bordas
e aumento da cobertura urbana estão relacionados à exposição aos agentes detectados na pesquisa. Desta forma,
os resultados desta pesquisa abrem possibilidades de aplicação da mesma abordagem para investigar patógenos
compartilháveis em habitats alterados pela presença humana. E, sendo assim, contribui para ações de manejo e
estabelecimento de políticas públicas para a proteção das espécies de primatas nativas fora de áreas protegidas,
territórios em constante conflito com espécies domésticas e atividades antropogênicas.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: