Avaliação dos impactos econômicos e influência climática na ocorrência de mastite em uma propriedade leiteira de Santa Maria - RS
Resumo
Entre as doenças que afetam a saúde do rebanho leiteiro, a mastite é considerada a de maior
relevância. Os prejuízos decorrentes dessa enfermidade muitas vezes são desconhecidos e/ou
subestimados pelos produtores, especialmente por aqueles que possuem produção menos
tecnificada ou que não contam com acompanhamento sistemático de um sanitarista.
Considerando que no Rio Grande do Sul (RS), a maioria dos locais que comercializam o leite
para a indústria são oriundos deste tipo de estabelecimento, o objetivo deste trabalho foi avaliar
o impacto econômico que as mastites causaram na produção de uma pequena propriedade
familiar de produção de leite no município de Santa Maria-RS. Verificamos, também, se a
ocorrência de mastite foi correlacionada com as variações climáticas da região. Entre novembro
de 2021 e outubro de 2022 foram realizados, mensalmente, testes de diagnóstico de mastite,
identificadas as perdas diretas e indiretas devido à doença, e obtidos os dados de temperatura
ambiental, umidade relativa do ar (URA) e precipitação pluviométrica local. Para o diagnóstico
de mastite clínica foi utilizado o teste de tamis e para mastite subclínica, o teste California
Mastitis Test. Foi realizada coleta de leite para cultura microbiológica dos quartos mamários
afetados para determinação da origem das mastites. Os dados referentes à contagem de células
somáticas do leite de tanque (CCST) foram obtidos da indústria de laticínios para a qual o leite
era comercializado. Os dados climáticos foram obtidos no site do Centro de Previsão de Tempo
e Estudos Climáticos/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Os gastos diretos
contabilizaram custos com medicamentos, atendimento médico veterinário, descarte do leite,
mão-de-obra com o tratamento e descarte de animais. As perdas indiretas foram estimadas pela
CCST. Durante o período, 25,06% a 33,43% dos quartos mamários do rebanho foram afetados
por mastite (mediana de 29,83%), sendo que as mastites clínicas (mediana 3%) ficaram acima
da mediana nos meses de meses de novembro a dezembro de 2021, e em janeiro, fevereiro e
outubro de 2022; e as mastites subclínicas (mediana 27%) foram mais frequentes nos meses
dezembro de 2021, março, abril, maio, junho, agosto e julho de 2022, similar à ocorrência de
mastites ambientais e contagiosas, respectivamente. Os prejuízos totais contabilizaram 10,63%
do lucro bruto da produção, sendo que as perdas diretas totalizaram 37,43% dos gastos,
enquanto que as indiretas, representadas pela queda na produção de leite, totalizaram 62,57%
do prejuízo econômico. Houve correlação negativa entre a ocorrência de mastite clínica e a
média mensal de URA, e entre a ocorrência de mastite subclínica e a temperatura média mensal.
Por outro lado, foi observada correlação positiva entre a ocorrência de mastite subclínica e a
média de URA. Os resultados demonstram que as mastites incidiram negativamente na
economia da propriedade avaliada, e houve influência climática na ocorrência da doença. Esses
achados podem refletir a situação de outras pequenas propriedades leiteiras que apresentem
características similares e que estejam inseridas na mesma região do estudo.
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