Nomeação e designação na cobertura jornalística dos atos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília
Resumo
Nesta pesquisa, exploramos a maneira com que um acontecimento é construído pelo jornalismo. Para realizar essa tarefa, situamo-nos em uma perspectiva discursiva, sob a ótica da Análise Materialista do Discurso. O foco de estudo consiste nos Atos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, quando um grupo de pessoas marchou em direção à Praça dos Três Poderes, rompeu as barreiras de proteção e adentrou em prédios públicos. Houve depredação dos edifícios e 2.151 pessoas foram detidas em flagrante. Esta monografia tem como principal objetivo averiguar como dois portais de notícia construíram a imagem dos sujeitos envolvidos nos atos e, possivelmente, esse evento como acontecimento jornalístico e discursivo. Os portais selecionados foram o G1 e o jornal Folha de S. Paulo Tendo em vista essa problemática como objetivo principal, o estudo propõe os seguintes objetivos específicos: a) compreender o processo de constituição, formulação e circulação do discurso jornalístico; b) explorar a construção do acontecimento por meio das manchetes dos portais de notícias; c) discutir os efeitos de sentido produzidos a partir da designação dos indivíduos presentes no ato. Os dois primeiros capítulos têm a finalidade de situar o leitor no caminho teórico, que é o alicerce da análise, apresentando conceitos relacionados ao jornalismo e à Análise Materialista do Discurso, tais como: acontecimento, formação discursiva e designação. Para a constituição do arquivo foi utilizada a busca avançada do Google, com inserção do termo “Brasília” e restrições de data e site. Foi demonstrado um panorama sócio-histórico brasileiro no momento anterior aos Atos em Brasília, apresentando as condições de produção dos discursos, tanto dos que estiveram diretamente envolvidos na ação, quanto do jornalismo. Na análise, chegou-se ao entendimento de que os portais construíram os envolvidos nos atos com base em uma separação do bolsonarismo em grupos, com posições distintas em relação ao rompimento da democracia. Em outros termos, a análise aponta que parece ter havido um certo cuidado em não generalizar os “bolsonaristas” como “terroristas” e “golpistas”, designações regularmente presentes nas manchetes. Acrescenta-se que os veículos categorizaram as ações como vandalismo ou depredação. Pensando no funcionamento da designação desses termos, entende-se que parece sugerir um enfoque nas consequências materiais, nesse caso específico, aos prédios públicos. Conclui-se que, ao não nomear os “bolsonaristas” de forma destacada, mas sim, associando-os a outros termos, os portais acabam por setorizar o “bolsonarismo”, dificultando o entendimento de que esse grupo seja antidemocrático. Além disso, ao qualificar os Atos como vandalismo, os portais restringem a relação de efeitos das ações, afastando-as de sua compreensão como um possível atentado ao Estado Democrático de Direito.
Coleções
- TCC Jornalismo [92]
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