“Tu és o viajante dos árabes e dos não-árabes”: Os limites do Dar al-Islam e suas zonas de contato em Ibn Battuta (703-770 H./1304-1369 D.C.)
Data
2024-02-16Primeiro membro da banca
Ferrari, Fernando Ponzi
Segundo membro da banca
Pinto, Otávio Luiz Vieira
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Esta dissertação estabelece uma análise sobre as representações do Outro nos limites do dar al-Islam a partir do relato de ibn Battuta (1304-1369/703-770). Nascido no Magreb, ibn Battuta foi um muçulmano arabizado que percorreu durante quase trinta anos um território que compreende do Sahel africano ao Leste da Ásia. Após retornar para sua região natal, encabeçada pela dinastia Marínida (c. 1244-1465), ditou ao escrivão ibn Juzayy (f. 1357/758) o que havia vivenciado, ouvido e sentido. Sob encomenda do sultão Abu Inan Faris (r. 1348-1358), o relato foi intitulado Tuḥfat al-nuẓẓār fī gharāˀib al-amṣār wa-ˁajāˀib al-asfār (“Um presente para aqueles que contemplam as peculiaridades das cidades e as maravilhas da viagem”), posteriormente conhecido como Riḥla (Viagem). Marcada sobretudo pelo encontro com outros muçulmanos, a obra aborda vários temas, inserindo observações, eventos históricos, anedotas e interações com figuras ilustres, além de descrições dos costumes locais. Dentre as regiões visitadas, podemos mencionar as terras árabes e iranianas, a costa somali e suaíli, a anatólia greco-turca, a Ásia Central, o subcontinente indiano e a China sino-mongol, assim como al-Andaluz e, através das rotas transaarianas, o Império do Mali. Cobrindo tanto as regiões centrais quanto limítrofes do território sob autoridade muçulmana, seu itinerário apresenta uma comunidade étnica e culturalmente diversa, mas conectada por redes e tradições que reforçam sua identidade religiosa. A partir de uma perspectiva árabo-islâmica, ibn Battuta constrói diferentes representações acerca dos muçulmanos arabizados e não-arabizados, assim como entre muçulmanos e não-muçulmanos. Nesta dissertação, analisamos a experiência do viajante frente os limites do dar al-Islam (Morada ou Casa do Islã) e seus habitantes, demonstrando tanto sua agência quanto inserção em um universo sociocultural pré-estabelecido. Para executar tal tarefa, contamos com referenciais teórico-metodológicos ligados aos conceitos de práticas e representações, onde diferentes discursos sobre si e o Outro acabam construindo termos, categorias e posições, resultando em uma disputa de autoridade pela compreensão do espaço sociocultural. Argumentamos que ibn Battuta operou seu relato através da filiação com indivíduos e instituições do espaço árabo-pérsico, mobilizando seu universo sociocultural para construir uma representação do Outro que comportasse os encontros com os novos agentes do Islã. Veremos que, sendo seguidores de uma mesma religião e, portanto, compreendidos como parte da comunidade dos crentes (umma), mas distintos do viajante em seus traços físicos e culturais, os muçulmanos não-arabizados desempenharam um importante papel no relato ao ressignificar os espaços e internalizar seus grupos na Casa do Islã (dar al-Islam).
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: