Borboletas frugívoras (Lepidoptera: Nymphalidae) do centro oeste do Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo
A fragmentação e a perda de habitat ocasionados pelas atividades antrópicas são as principais ameaças
à diversidade biológica. No Rio Grande do Sul (RS), principalmente no bioma Pampa ao sul do estado,
a crescente demanda de produção e consequente expansão das atividades de agricultura, pecuária e
silvicultura e a carência de proteção, acrescem sua vulnerabilidade. As borboletas frugívoras perfazem
cerca de 50 % das espécies de Nymphalidae em florestas neotropicais. Elas são atraídas e amostradas
com armadilhas com iscas e consistem em boas ferramentas para monitoramento ambiental.
Adicionalmente, estudos temporais desta guilda podem auxiliar no planejamento de trabalhos em
regiões ainda não inventariadas. Este trabalho tem por objetivo fornecer uma lista de espécies de
borboletas frugívoras do centro oeste do RS e analisar a variação temporal na riqueza, abundância e
composição de espécies. Em paralelo, nós atualizamos a lista regional de espécies de Satyrini, com
base em estudos de campo (amostragem com rede entomológica) e na literatura e verificamos a
influência das variáveis ambientais e espaciais na distribuição das espécies desta tribo no sul do Brasil.
Este estudo foi realizado nos municípios de Jaguari, São Francisco de Assis e São Vicente do Sul, no
bioma Pampa, sul do Brasil. As borboletas foram amostradas, com o uso de armadilhas com iscas
atrativas, em nove sítios amostrais, onde também foram medidas variáveis microclimáticas,
bimestralmente de janeiro de 2010 a dezembro de 2011. Nestes sítios, as borboletas da tribo Satyrini,
foram amostradas com rede entomológica, de janeiro de 2010 a janeiro de 2011. No total de 2160
armadilhas/dia de amostragem, foram registrados 3288 indivíduos, pertencentes a 44 espécies e
subespécies. Satyrinae foi a subfamília com maior número de espécies (57%), seguida de Biblidinae
(23%), Charaxinae (18%) e Nymphalinae (2%). Narope panniculus Stichel 1904 é novo registro para o
RS. Trinta e sete espécies e 3822 indivíduos foram usados nas análises temporais. De acordo com os
resultados, não houve diferença significativa de riqueza entre as estações, mas foi registrada uma
variação temporal na abundância das assembléias de borboletas frugívoras estudadas. A abundância
total foi influenciada pela abundância da subfamília Satyrinae. As espécies raras tiveram um papel
importante na composição desta comunidade. Temperatura, umidade relativa do ar e luminosidade
foram as variáveis microclimáticas que mais contribuíram na estruturação das assembleias. Para as 40
espécies de Satyrini analisadas neste estudo, as diferenças na temperatura, região fitoecológica e
posição espacial provaram afetar a sua distribuição no sul do Brasil. A região centro oeste do RS abriga
uma fauna rica e peculiar de borboletas frugívoras que deve ser conservada. É importante a criação de
medidas de incentivo ao uso sustentável da terra, bem como de políticas públicas que visem
conservação da biodiversidade, especialmente em áreas que não são legalmente protegidas, para
garantir a sobrevivência das espécies e dos ambientes que as abrigam.