Qualidade da matéria orgânica e disponibilidade de cobre em solos de áreas de videira
Resumo
No Brasil a uva é produzida em várias regiões, principalmente na pequena propriedade, porém
é no sul do país que a cultura da videira tem grande importância econômica, pois seu cultivo é feito
para suprir a demanda das indústrias de sucos e vinhos que foram implantadas na região pelos
descendentes de italianos. A aplicação continua de calda bordalesa como fungicida tem causado uma
elevação nos teores de cobre em solos de vinhedo, principalmente nas camadas superficiais de solos,
provocando maior disponibilidade do elemento e causando fitotoxidade às plantas. A fitotoxidade do
cobre depende da distribuição relativa entre as formas químicas desse metal, as quais são
relacionadas às propriedades físico-químicas de cada solo, sendo as formas solúveis do metal, forma
livre ou complexada à matéria orgânica (MO), mais fitotóxicas em relação às formas insolúveis na
forma de sais ou associados à MO, óxidos e argilas presentes na fase sólida do solo. No solo, o cobre
é tóxico para uma grande variedade de organismos, afetando o crescimento, a morfologia e o
metabolismo de microrganismos, e dessa forma, provocando alteração nas características da matéria
orgânica do solo (MOS), uma vez que esses microrganismos são responsáveis pela sua degradação.
Também, o cobre possui a capacidade de formar complexos estáveis com a MOS, protegendo-a do
processo de humificação, pois a formação dos complexos impede que essas macromoléculas estejam
aptas a participar de outras reações químicas e sofrer modificações em sua estrutura. Os objetivos da
tese foram: a) caracterizar formas e determinar adsorção/dessorção de cobre em solos com e sem
histórico de aplicação de calda bordalesa; b) extrair e analisar a qualidade de substâncias húmicas de
solos incubados com diferentes teores de cobre; e c) estimar a disponibilidade do cobre às plantas em
solos com aplicação de diferentes teores de cobre. Para o desenvolvimento da tese, amostras
superficiais (0 10 cm) de seis solos foram coletadas em áreas de vinhedos com histórico de aplicação
sistemática de calda bordalesa e de áreas próximas com mata nativa sem adição de cobre na Serra
Gaúcha. Estudos de adsorção e dessorção foram feitos para verificar a capacidade máxima de
retenção do cobre no solo, e foram relacionados com estudos de fracionamento do cobre utilizados
para quantificar e qualificar as formas de retenção do metal em diferentes componentes do solo.
Quatro solos foram incubados em sacos plásticos, com adição de diferentes quantidades de cobre (0,
200, 400, 600 e 1.200 mg kg-1), sendo coletados periodicamente para análises químicas. Algumas
amostras desses solos foram selecionadas para a realização do fracionamento químico para o estudo
das características químicas das substâncias húmicas. Os resultados mostraram que solos sob mata
nativa possuem baixo teor de cobre, entre 77,2 a 84,7 mg kg-1, ligados principalmente nas frações
mais estáveis como a residual e de MOS, em comparação a solos com cultivo de videira com teores
totais entre 674,2 a 1.154,6 mg kg-1, distribuídos em todas as frações do solo, porém a retenção nas
frações mais estáveis diminui para 51,0 a 78,2%. Os solos possuem alta capacidade de adsorção e
ocorre alta histerese devido à presença de sítios com alta afinidade com o cobre. Os estudos de
incubação sugerem que a presença desse metal em alta concentração afeta a processo de
humificação da MOS, que explica o fato das substâncias húmicas de solos de vinhedo ter menor
aromaticidade com maior presença de grupamentos funcionais comparadas às de solos sob mata
nativa. A disponibilidade desse elemento foi alterada após o período de incubação e pode estar
relacionada ao teor da fração de ácidos húmicos (CAH) presentes no solo e a variação de pH do solo.
O desenvolvimento das plantas foi afetado com a elevação do teor de cobre disponível e teve relação
diretamente proporcional com a fração de ácidos fúlvicos (CAF).