Degradação de biossólido por fungos lignocelulolíticos
Resumo
O tratamento das águas residuárias do município de Santa Maria (RS) é do tipo lodo ativado
por aeração prolongada. Neste processo são gerados resíduos sólidos (biossólidos) que
necessitam disposição final adequada. Na composição química dos biossólidos são
encontrados compostos orgânicos oriundos da parede celular dos vegetais. Dentre esses,
destacam-se a hemicelulose, a celulose e a lignina, já que a degradação destas frações não
é efetiva nos reatores biológicos. Poucos organismos são capazes de atuar
simultaneamente sobre estas três frações. Entretanto, alguns fungos causadores da
podridão branca da madeira possuem conjuntos enzimáticos capazes de degradar os
componentes vegetais, em especial, as fibras lignocelulósicas. Por isso, supõe-se que os
fungos basidiomicetos, causadores da podridão branca, podem ser utilizados para promover
a biodegradação de lodos ativados por aeração prolongada. O presente trabalho visou
prospectar, selecionar e avaliar a eficiência de isolados fúngicos lignocelulolíticos em
biodegradar lodo ativado gerado na Estação de Tratamento de Esgoto de Santa Maria (RS)
buscando conhecer as taxas de degradação proporcionadas pelos isolados. O lodo ativado
foi avaliado quimicamente em sua fração inorgânica para conhecimento dos teores de
metais pesados e caracterização físico-química. As fibras lignocelulósicas (lignina, celulose
e hemicelulose) foram estimadas usando o método de Von Soest. Os fungos basidiomicetos
foram coletados na região de Santa Maria (RS) e isolados em laboratório para obtenção de
culturas puras. Também foram avaliados isolados fúngicos cedidos pelo Cenargem (Brasília)
reconhecidamente lignocelulolíticos. Estes organismos foram testados quanto a sua
capacidade em biodegradar lodo ativado natural e autoclavado através de experimentos
respirométricos sob diferentes condições de temperatura, umidade e pH. Os teores de
metais pesados mostraram que o biossólido da Estação de Tratamento de Esgoto de Santa
Maria (RS) enquadra-se nos limites estabelecidos pela legislação nacional e internacional.
Os parâmetros físico-químicos se apresentaram dentro da faixa esperada para lodos
ativados com aeração prolongada. O fósforo, no entanto, apresentou teores elevados devido
o emprego de cloreto férrico no tratamento do efluente líquido. A autoclavagem do
biossólido promoveu alterações químicas significativas nas frações orgânicas e inorgânicas.
Os testes respirométricos mostraram respostas diferenciadas para os isolados avaliados,
sendo a temperatura o fator ambiental mais eficiente para elevação das taxas de
biodegradação do lodo ativado. Os isolados fúngicos de Schyzophyllum commune e
Trametes versicolor apresentaram as maiores taxas de biodegradação do lodo ativado
alcançando os valores de 65,71% e 64,74%, respectivamente. Estes isolados atuaram sobre
as frações hemicelulose, celulose e lignina do lodo ativado da Estação de Tratamento de
Esgoto de Santa Maria (RS) indicando a possibilidade de uso como degradadores de
biossólido.