Processos hidrológicos e balanço hídrico em lisímetros de drenagem em campo e mata nativa
Resumo
A representação detalhada dos processos hidrológicos envolvidos no balanço hídrico do
solo e o pouco conhecimento sobre a influência das florestas tropicais tem adquirido grande
importância para uma gestão eficiente dos recursos hídricos e melhor compreensão do ciclo
hidrológico. Para tanto, se faz necessário a utilização de técnicas que permitam o monitoramento e
a representação das variáveis envolvidas, de forma mais próxima possível, ao ambiente natural.
Neste contexto, este trabalho teve como objetivo, investigar a dinâmica dos processos
hidrológicos do solo e a determinação da escala temporal mais adequada para a determinação do
balanço hídrico, utilizando lisímetros de drenagem, contendo em seu interior solo com estrutura
não deformada, instalados em área de campo nativo e em área de mata nativa, representativa do
bioma mata atlântica. O monitoramento das variáveis precipitação, escoamento superficial e
drenagem foi realizado por meio de pluviógrafos eletrônicos e o conteúdo de água no solo foi
monitorado por tensiômetros eletrônicos instalados nas profundidades de 10, 30 e 70 cm, no
interior dos lisímetros. Os resultados demonstram que devido a interceptação da radiação solar, a
vegetação de mata nativa proporciona a formação de um microclima interno diferenciado em
relação ao ambiente externo de campo nativo, resultando em um menor aporte de energia e
exercendo influências significativas sobre os processos hidrológicos envolvidos no balanço
hídrico. Esta diferença nas condições climáticas aliadas as características do solo, permite que o
lisímetro instalado na mata nativa apresente maior capacidade de armazenamento de água, sendo
observados maiores conteúdos de água no solo, em todas as profundidades, quando comparado a
condição de campo nativo. Em consequência, o lisímetro instalado na mata nativa mantem os
fluxos subterrâneos de drenagem por mais tempo que o lisímetro instalado no campo nativo,
sendo o processo de drenagem influenciado pela época do ano e conteúdo antecedente de água no
solo. Quanto ao escoamento superficial, observa-se que os volumes escoados, por evento, são
maiores no campo nativo do que na mata nativa. O cálculo do balanço hídrico com base nos dados
monitorados nos lisímetros demonstra que a evapotranspiração real média diária foi 36,93%
superior no lisímetro do campo nativo quando comparado ao lisímetro instalado no interior da
mata nativa, havendo diferença significativa entre os dois ambientes. Os lisímetros utilizados
neste estudo bem como, as metodologias adotadas para o monitoramento das variáveis
hidrológicas envolvidas no balanço hídrico, não apresentaram resultados satisfatórios para a
determinação da evapotranspiração em períodos diários já que não são capazes de representar as
defasagens observadas na velocidade com que os diferentes processos ocorrem no interior do
perfil do solo. A escala temporal por eventos mostrou ser a mais adequada na determinação do
balanço hídrico em relação ao período diário e decêndial.