Caracterização e manejo do patossistema erva-mate/podridão-de-raízes
Resumo
A erva-mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.) é uma espécie amplamente cultivada no sul do Brasil e países vizinhos, cujas folhas e galhos finos, preparados segundo método apropriado, fornecem o mate ou chimarrão, o mais popular chá consumido no Brasil e exportado para todo o mundo. A
podridão-de-raízes é a principal doença da espécie no Brasil, podendo atacar plântulas e mudas no viveiro, bem como, árvores adultas em ervais. A doença é causada por Fusarium spp., além de Pythium sp. e Rhizoctonia sp. e provoca sérios danos decorrentes da destruição do sistema radicular,
ocasionando, nos casos mais graves, morte da planta. Suspeita-se que a incidência e a severidade da doença são influenciadas pelos métodos de cultivo e por práticas de manejo do erval, como aplicação de adubos minerais sem critérios técnicos ou ausência de adubação, calagem do solo e cultivo de ervais a pleno sol. Para verificar tal hipótese, foram demarcadas 25 propriedades rurais, em diferentes
municípios da região do Vale do Taquari-RS, as quais possuíam ervais com sintomas da doença, e outras com ervais sadios. Nesses ervais, foram coletadas informações a respeito das características de cultivo e manejo, assim como, solo para análise química e biológica. Estas informações foram
correlacionadas entre si através da correlação de Pearson e desdobradas em efeitos diretos e indiretos através da Análise de Trilha. Nos viveiros, suspeita-se que a incidência da doença está correlacionada à contaminação das sementes utilizadas e que, patógenos transmitidos por sementes, além de causar mortalidade de mudas, podem ser transmitidos a mudas sadias e, estas, serem transportadas para o
campo, contaminando áreas livres do patógeno. Além disso, algumas práticas utilizadas pelos viveiristas podem ocasionar aumento da incidência de patógenos nas sementes e mudas. Para verificar tal hipótese, foram demarcados viveiros na região do Vale do Taquari-RS, onde foram coletadas
amostras de sementes, de plântulas, de mudas e de substrato para analisar o potencial de inóculo de patógenos presente em cada tipo de amostra. A partir das análises do substrato, das sementes e das mudas, diferentes colônias de fungos do gênero Fusarium foram isoladas, purificadas e armazenadas,
para testes de patogenicidade e, Trichoderma, para seleção de isolados com potencial antagonista ao Fusarium. Além disso, foram instalados experimentos, em dois viveiros, a fim de testar a eficiência dos produtos comerciais, químico (Captan SC®) e biológico (Agrotrich® e Trichodel®), no tratamento de sementes, visando o controle da incidência da doença nas sementeiras. Nos ervais, entre as variáveis estudadas, verificou-se que a matéria orgânica é a que mais influencia na população de Fusarium do solo, obtendo-se uma correlação linear positiva. Além desta variável, os teores de cálcio e de fósforo no solo também exercem certa influencia na população de Fusarium, mas de forma menos significativa. Nos viveiros, constatou-se alta porcentagem de sementes contaminadas por Fusarium e Rhizoctonia e que, a contaminação começa já na fase de flores e frutos. Observou-se também, que a técnica de beneficiamento e estratificação das sementes, utilizada atualmente pelos viveiristas,
contribui para o aumento da incidência de patógenos. Além das sementes, observou-se que plântulas e mudas no final do ciclo de viveiro, apresentam contaminação por patógenos nas suas raízes, mesmo que não apresentavam sintomas de podridão-de-raízes. Os produtos Captan SC®, Agrotrich® e
Trichodel® utilizados no tratamento das sementes, previamente a semeadura, não foram eficientes no
controle de Fusarium e Rhizoctonia. Na seleção de Trichoderma spp. com potencial antagonista ao
Fusarium observou-se que o isolado SP-SFE-T1 apresentou alto potencial antagônico em testes in vitro .