Intoxicação em búfalos (Bubalus bubalis) por Baccharis megapotamica var. weirii
Resumo
Na primeira parte dessa tese, relatamos a ocorrência natural de um surto de intoxicação por Baccharis
megapotamica var. weirii em búfalos na Região Central do Rio Grande do Sul. Os animais haviam sido
transportados de uma propriedade onde a planta não ocorria para uma propriedade infestada pela planta. Durante
o transporte, os animais foram submetidos a um longo período de jejum e estresse. Como resultado, após o
desembarque dos 50 búfalos transportados, dez morreram com doença de evolução aguda (24-48 horas). A
maioria dos búfalos foi encontrada morta, mas os sinais clínicos observados em um búfalo incluíam
lacrimejamento, incoordenação e fraqueza dos membros posteriores, desorientação, decúbito esternal, lateral e
morte. Na necropsia de um animal foi observado acentuada desidratação, avermelhamento e edema da mucosa
dos pré-estômagos e intestino. Na microscopia, as áreas vermelhas dos pré-estômagos e intestino correspondiam
à necrose acentuada do epitélio. Em visita à propriedade foi observada grande quantidade de B. megapotamica
(identificada posteriormente como B. megapotamica var. weirii) com sinais de ter sido consumida pelos búfalos.
Na segunda parte da tese, reproduzimos experimentalmente a intoxicação por B. megapotamica var. weirii em
búfalos para melhor caracterizar o quadro clínico-patológico da intoxicação na espécie, assim como determinar a
dose tóxica e avançar no estudo da patogênese da intoxicação. Para tal, utilizamos cinco búfalos da raça Murrah
com 6 a 8 meses de idade e peso variando entre 122 e 143 kg. Esses animais receberam em uma única
administração por via oral, 1, 3, 4, 5 e 10 g/Kg das partes aéreas de Baccharis megapotamica var. weirii. A
planta usada no experimento foi colhida na fazenda onde ocorreu o surto de intoxicação espontânea descrito
acima. Os sinais clínicos apareceram 4-20 horas e quatro búfalos morreram 18-49 horas após a ingestão da
planta. Os sinais clínicos consistiram de apatia, anorexia, diarreia aquosa, febre, cólica, salivação, tremores
musculares, inquietação, respiração laboriosa, atonia ruminal e desidratação. Os achados macroscópicos mais
consistentes estavam restritos ao trato gastrointestinal (GI) e consistiram de graus variados de edema e
avermelhamento da mucosa dos pré-estômagos. Os achados histopatológicos consistiam de vários graus de
necrose do epitélio de revestimento dos pré-estômagos e de linfócitos em agregados e órgãos linfoides. Trombos
de fibrina foram consistentemente encontrados nos vasos da submucosa dos pré-estômagos e na luz dos
sinusoides hepáticos. Uma subamostra de B. megapotamica var. weirii foi congelada a seco, moída e analisada
usando UHPLC (Cromatografia Líquida de Ultra Alta Performance) com espectrometria de tempo-de-vôo de alta
resolução e espectrometria de massa em tandem. Foi demonstrado que o material de planta analisado continha
pelo menos 51 tricotecenos macrocíclicos diferentes num nível total de 1,1-1,2 mg/g. Cerca de 15-20% do
conteúdo total de tricotecenos eram conjugados de monossacarídeos, sendo dois terços desses, conjugados de
glicose e um terço constituídos por seis conjugados de aldopentose (provavelmente xilose). Em conclusão, o
presente estudo descreveu pela primeira vez a intoxicação em búfalos por plantas do gênero Baccharis. A
reprodução experimental demostrou que búfalos são um pouco mais resistentes a intoxicação por B.
megapotamica var. weirii do que bovinos. Quanto à patogênese, foi sugerido que desidratação, septicemia e
coagulação intravascular disseminada sejam fatores responsáveis pela morte dos animais afetados.
Adicionalmente, foi descrito presença de tricotecenos constituídos por seis conjugados de aldopentose
(provavelmente xilose) no B. megapotamica var. weirii, o que nunca tinha sido antes relatado na literatura.