Jejum pré-anestésico em gatos adultos jovens (Felis silvestris catus)
Resumo
O estudo foi dividido em quatro artigos. O primeiro teve como objetivo realizar a revisão de literatura sobre jejum pré-operatório em cães e gatos, enfatizando o tempo recomendado na literatura e suas particularidades. O segundo teve como objetivo avaliar o período de jejum adequado para os procedimentos anestésico-cirúrgicos eletivos, em gatos, por meio de análise do tempo de esvaziamento gástrico com base na necessidade energética diária comparando o tempo de jejum de 4 e 8 horas com o tipo de alimentação seca ou úmida. A pesquisa envolveu 4 fases de avaliação, em intervalos de 7 dias, com sete gatas sendo submetidas em jejum e anestesiadas durante 30 minutos e avaliadas pela gastroscopia. Os animais foram submetidos a biopsia gástrica para avaliação histológica e pesquisa de Helicobacter ssp e para descartar alterações morfológicas e submetidos apenas ao procedimento anestésico mimetizando um tempo cirúrgico para uma cirurgia eletiva. A avaliação foi feita com um endoscópio flexível gastrintestinal de 9,7 mm. Além da inspeção, foram realizados exames bioquímicos para determinação da glicose, lactato, colesterol e albumina em amostras coletadas previamente à anestesia após os tempos de jejum. Os animais foram monitorados clinicamente até três meses após a realização do último grupo. O tempo de jejum de 4 e 8 horas com alimentação pastosa promoveu completo esvaziamento gástrico nas sete gatas; e cinco gatas não apresentaram esvaziamento completo no tempo de 8 horas de jejum com alimentação seca. O terceiro artigo teve como objetivo avaliar o pH esofágico e gástrico utilizando alimentação seca e período de jejum de oito horas. Foram utilizadas sete gatas que foram alimentadas com ração seca e foram submetidas a jejum pré-operatório de 8 horas. Foram avaliados o pH esofágico e gástrico após a indução anestésica e o pH esofágico durante a recuperação anestésica até completar seis horas da indução anestésica. Utilizou-se de um pHmetro esofágico Scophe Dynamed®, que possibilitou a avaliação das gatas pela introdução do cateter transnasal até 2 cm do esfíncter esofágico inferior e sendo o pH monitorado continuamente e registrado a cada 5 minutos por um período de 360 minutos. O pH médio foi de 6,49±0,42 no esôfago e de 1,50±0,31 no estômago. Não houve diferença estatística no pH esofágico e gástrico na indução anestésica com o protocolo usado. Também não houve refluxo gastresofágico (RGE) durante as seis horas seguintes. O quarto artigo teve como objetivo comparar a pHmetria nos dois tipos diferentes de jejum pré-operatório, o de 8 horas com ração seca (12% de umidade) e o de 4 horas com ração pastosa (80% de umidade). Foram utilizadas sete gatas, divididas em dois grupos A (alimentação seca e tempo de 8 horas de jejum pré-operatório) e B (alimentação pastosa e tempo de 4 horas de jejum pré-operatório). Foram realizadas a pHmetria e o acompanhamento por seis horas desde o tempo de indução anestésica T0 até 360 minutos (T13). O pH médio no esôfago do grupo A foi estatisticamente superior ao do grupo B. O pH médio no estômago do grupo A foi estatisticamente inferior ao do grupo B. O pH médio no esôfago do grupo A foi estatisticamente superior ao do estômago. O pH médio no esôfago do grupo B foi estatisticamente superior ao do estômago. Quando comparados os tempos de recuperação o pH médio do grupo A não variou significativamente entre os tempos (P<0,05), enquanto que o pH médio do grupo B variou significativamente entre os tempos 4 e 5; 11 e 12. Como conclusões deste estudo verificou-se que 4 horas com ração úmida permite um esvaziamento completo do estômago e um jejum alimentar de 8 horas com ração seca poderá ter conteúdo gástrico embora sem alteração da pHmetria esofágica e gástrica em ambos os tempos de jejum sem risco de refluxo gastresofágico.