Componentes dos sistemas purinérgico e colinérgico nos processos inflamatórios e neurológicos em roedores infectados experimentalmente com Toxoplasma gondii
Resumo
A toxoplasmose é doença zoonótica causada pelo Toxoplasma gondii, podendo levar à alterações funcionais, bioquímicas e estruturais, especialmente no sistema nervoso central. Estas, geralmente, são acompanhadas por uma marcante resposta imunoinflamatória em hospedeiros imunocompetentes. Infecções primárias com T. gondii estimulam a produção de altos níveis de citocinas, tais como IL-12 e IFN-γ, pelas células do sistema imune inato, consistindo em um ponto principal no controle do parasito e resistência a doença. Em se tratando de resposta imune, os sistemas purinérgico e colinérgicos possuem algumas propriedades bem definidas, porém sem muitas informações sobre a inter-relação destes com a toxoplasmose. Desta maneira, os objetivos deste estudo foram avaliar as atividades (1) da E-NTPDase e E-ADA em linfócitos; (2) da AChE no sangue total e linfócitos, e BChE no soro; utilizando a cepa RH (virulenta) do T. gondii; e (3) avaliar os níveis de purinas e atividade da E-ADA no cérebro, utilizando-se as cepas RH e Me-49 (cistogênica). Os resultados da primeira avaliação demonstraram que a hidrólise do ATP e ADP foram aumentadas, bem como a atividade da E-ADA também esteve aumentada. No segundo experimento, observou-se um aumento na atividade da AChE nos linfócitos e no sangue total. Por fim, no terceiro experimento, verificou-se na infecção com a cepa RH um aumento nos níveis de ATP, ADP, AMP, adenosina, hipoxantina e xantina, e redução nos níveis de inosina. Nos animais infectados com a cepa Me-49, observaram-se inicialmente um aumentos nas concentrações de ATP e ADP, seguido de uma redução na concentração dos nucleotídeos e nucleosídeos. Em relação à atividade da E-ADA, verificou-se uma redução na infecção pela cepa RH, e inicialmente para a cepa Me-49, porém a E-ADA aumentou suas atividades para esta cepa cistogênica no final do experimento. A avaliação das atividades da E-NTPDase e E-ADA levou a preposição de que seus comportamentos hidrolíticos estariam ligados a um mecanismo de proteção contra danos teciduais secundários, possivelmente gerados respostas exacerbadas a infecção pelo T. gondii. Adicionalmente, os dados da atividade da AChE, em amostras correspondentes, comprovaram o estabelecimento de uma resposta pró-inflamatória, corroborando com a hipótese da necessidade de um mecanismo de modulação. No tecido cerebral, a cepa RH repetiu o seu comportamento pró-inflamatório, e este comportamento pode ser analisado em longo prazo, no estudo que envolveu a cepa Me-49. Neste modelo, observou-se um aumento do ATP extracelular no início da infecção, como dados de histopatologia mostrando infiltrado inflamatório e a identificação de cistos teciduais tardiamente. Por fim, neste último período, observou-se uma diminuição na concentração das purinas, muito provavelmente em consequência da agravação da condição celular local em decorrência da evolução da infecção. Desta forma, foi possível se observar que existe uma participação direta dos sistemas purinérgico e colinérgico na imunomodulação da toxoplasmose experimental com cepas virulenta ou cistogênica, contribuindo para a instalação de uma resposta imune celular adequada ao parasito, e para um mecanismo de redução de danos teciduais associados a danos parasitários diretos e a resposta imune exacerbada.