Ação da Phα1β, peptídeo purificado do veneno da aranha Phoneutria nigriventer, sobre os efeitos analgésicos e adversos causados pela morfina em camundongos
Resumo
Os opióides são os medicamentos mais comuns prescritos em todo o mundo para
aliviar as dores moderadas a intensas. No entanto, a utilização de opióides está
associada com o desenvolvimento de tolerância ao efeito analgésico e de efeitos
adversos, tais como hiperalgesia paradoxal, síndrome de abstinência e constipação.
Um alvo importante para a analgesia induzida pela morfina é o bloqueio dos canais
de cálcio regulados por voltagem (CCRV). Porém pouco se sabe sobre o papel
desses canais na tolerância e nos efeitos adversos produzidos pela morfina. Assim,
o presente estudo foi realizado com o intuito de avaliar as possíveis ações da
Phα1β, um inibidor peptídico dos CCRVs purificado do veneno da aranha Phoneutria
nigriventer, sobre os efeitos antinociceptivos e adversos produzidos pela
administração única ou repetida de morfina. Foi avaliado o efeito da administração
intratecal da Phα1β (0.01-30 pmol/site) sobre a hiperalgesia térmica e mecânica,
tolerância, síndrome de abstinência e constipação induzidos pelo tratamento único
(10 mg/kg) ou repetido (doses crescentes, 3 vezes ao dia, durante três dias) de
morfina por via subcutânea em camundongos C57BL/6. Observamos que uma única
administração de morfina foi capaz de reduzir a nocicepção térmica mas não a
mecânica em camundongos, bem como reduzir o trânsito gastrointestinal. A
antinocicepção, mas não a constipação, causada por uma única dose de morfina foi
levemente aumentada pela administração intratecal da Phα1β. O tratamento repetido
com morfina não causou somente tolerância analgésica como também induziu
hiperalgesia, síndrome de abstinência e constipação. A Phα1β foi capaz de reverter
a tolerância, a síndrome de abstinência, a hiperalgesia mecânica e térmica e a
constipação induzidas pelo tratamento repetido de morfina. Finalmente, os efeitos
produzidos pela forma nativa Phα1β foram totalmente mimetizados por uma versão
recombinante do presente peptídeo. Em conclusão, nossos resultados sugerem que
a Phα1β é efetiva em potencializar a analgesia, bem como, reduzir a tolerância e os
efeitos adversos induzidos pela morfina. Desta maneira, a Phα1β apresenta um uso
potencial como uma droga adjuvante na terapia opióide.