Biogeografia de morcegos (Chiroptera) em área de transição floresta-campo no sudeste da América do Sul
Resumo
A variação da riqueza de espécies em escala regional tem sido
intensivamente discutida. Três das principais hipóteses que buscam explicar esse
padrão de variação são as hipóteses energética, climática e de heterogeneidade do
habitat. Estudos em meso-escala são importantes para descobrir padrões diferentes
que influenciam a variação na riqueza de espécies. Como os morcegos são muito
abundantes globalmente e bem diversificados ecologicamente, esses organismos
são ótimos caracterizadores ambientais. Com base nisso, os objetivos deste estudo
foram relacionar a composição das espécies de morcegos com a vegetação em área
de transição floresta-campo no sudeste da América do Sul e avaliar a influência do
espaço sobre a riqueza de morcegos através de variáveis ambientais. A área de
estudo compreende a porção sudeste da América do Sul. Os dados de distribuição
das espécies foram coletados através de visita a museus, revisão bibliográfica e
consulta a bancos de dados on line. Foi feita a estimativa de distribuição para cada
espécie sobre um mapa contendo 139 quadrículas de 1º de latitude por 1º de
longitude. Foram obtidos dados de distribuição para 79 espécies de morcegos.
Áreas de Floresta Ombrófila Densa e de Floresta Estacional possuíram a maior
riqueza de espécies. A análise de agrupamento com base nas quadrículas formou
três grupos nítidos: grupo Florestal (ao norte), Araucária (intermediário) e Campestre
(ao sul). O grupo Araucária ficou associado ao grupo Campestre. A análise de
agrupamento com base nas regiões fitogeográficas formou quatro grupos nítidos,
sendo que a Floresta de Araucária ficou associada às formações florestais. A
hipótese climática foi a que melhor explicou a variação dos dados de riqueza, sendo
a temperatura média anual a principal variável preditora, seguida pela amplitude da
altitude e pela AET, respectivamente. Considerando todas as variáveis, a regressão
OLS também apontou a temperatura média anual como a principal variável
preditora, seguida pela AET. Essas variáveis também explicaram a variação na
riqueza de espécies das famílias Phyllostomidae, Molossidae e Vespertilionidae. A
Floresta de Araucária é uma área filtro para a dispersão de espécies tropicais para
as regiões subtropicais e temperadas da América do Sul, devido aos invernos
rigorosos presentes nessa área, o que pode ser explicado principalmente pela
intolerância de algumas espécies a climas mais frios.