Filogeografia de Drosophila maculifrons e Drosophila griseolineata (Diptera, Drosophilidae) na região Sul do Brasil
Resumo
O período do Quaternário foi marcado por alterações consideráveis no clima e vegetação. No
Hemisfério Sul, as glaciações foram mais amenas, entretanto, houve a redução da temperatura e o
clima tornou-se mais seco. Dessa forma, ocorreram contrações na distribuição da Mata Atlântica e
sua substituição por outros tipos, condizentes ao clima, como o Cerrado e a Caatinga. Assim, a
vegetação de Mata Atlântica ficou restrita a locais úmidos e com temperaturas mais amenas,
conhecidos como refúgios, os quais abrigaram grande parte da biodiversidade neste período.
Sabe-se que essas alterações paleoclimáticas influenciaram a dinâmica populacional de muitas
espécies, especialmente no Hemisfério Norte, porém ainda não está claro o quanto esses impactos
influenciaram as espécies de distribuição Neotropical. As duas espécies em questão, Drosophila
maculifrons e D. griseolineata, pertencem ao grupo guaramunu de Drosophila e são consideradas
espécies irmãs, que divergiram aproximadamente há 4 milhões de anos. Porém, apesar do grau de
parentesco, elas apresentam alguns padrões ecológicos distintos, sendo a primeira mais generalista
e a segunda mais restrita a ambientes florestais. Devido a essa heterogeneidade ecológica, essas
duas espécies são potenciais indicadoras das conseqüências genéticas ocasionadas pelas
flutuações climáticas do Quaternário, principalmente em face de uma perspectiva comparativa. Os
objetivos deste trabalho foram avaliar a diversidade intra-específica de diferentes populações de
D. maculifrons e D. griseolineata, analisar a estruturação de indivíduos e populações nestas duas
espécies do grupo guaramunu e inferir as forças ecológicas e evolutivas que modelaram sua
distribuição ao longo do sul e sudeste brasileiros. Para isso, nossa amostragem conta com 114
indivíduos distribuídos ao longo das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste do Brasil e Medellin na
Colômbia. Foram realizadas análises de modelagem, bem como análises filogenéticas e
filogeográficas, sendo que essas duas últimas basearam-se nas sequências dos genes COI
(Citocromo Oxidase Subunidade I) e COII (Citocromo Oxidase Subunidade II). De uma forma
geral, os resultados que inferiram a distribuição dos habitats mais adequados para cada espécie
indicam que as duas espécies apresentam diversos pontos de simpatria, embora D. maculifrons
seja mais amplamente distribuída em território brasileiro. De acordo com as análises
filogeográficas, D. maculifrons apresenta baixos níveis de diversidade e estruturação em nível de
DNA mitocondrial, o que pode ser explicado por um evento de expansão populacional recente,
datado para aproximadamente 20 a 30 mil anos. Por outro lado, D. griseolineata apresenta níveis
moderados de diversidade e estruturação populacional e suas populações parecem ter se mantido
estáveis ao longo do tempo, apresentando um padrão de isolamento por distância. É, pois,
interessante avaliar os fatores ecológicos e/ou evolutivos responsáveis por toda essa diferença, e
esta dissertação representa um primeiro passo rumo a esse entendimento.